terça-feira, 29 de novembro de 2011

Michelle ou Michele?

Na semana passada, e quase ao mesmo tempo (pouco mais de um dia de intervalo), tanto Michelle Obama como Michele Bachmann foram desrespeitadas em público. A primeira-dama dos EUA foi vaiada por uma parte do público que assistia, em Miami, a uma corrida do campeonato automobilístico NASCAR. A congressista e candidata presidencial foi convidada por Jimmy Fallon a participar no programa daquele… e a sua entrada no estúdio foi feita ao som de uma canção chamada «Lyin’ Ass Bitch».
Qual das duas tem mais razões de queixa? Qual das duas pode dizer que foi mais ofendida do que a outra? Michelle, alvo de um protesto espontâneo mas inócuo, ou Michele, alvo de um insulto premeditado e cobarde? É indubitável que é a segunda. E esta evidência não é condicionável ou alterável por divisões político-ideológicas, comparações entre as coberturas mediáticas dos dois casos, o que Rush Limbaugh disse ou não disse… e os (sinceros?) pedidos de desculpas apresentados pelos (ir)responsáveis da («surpresa»!) NBC.   
Em última análise, tratou-se de mais um caso – e são já tantos! – de (tentativa de) destruição do carácter de uma mulher política conservadora. Mais uma vez, os tão «tolerantes» liberais pouco mais fazem do que chamar «nomes feios» aos adversários… e, se não é a falar,  é a cantar. «Criatividade» não lhes falta.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vai chamar «preguiçosos»…

… A outros! Preguiçoso és tu! Estas podem ter sido as reacções, as respostas imediatas e compreensíveis de muitos norte-americanos quando, na semana passada, e durante uma conferência no âmbito da Cooperação Económica Ásia-Pacífico realizada no Havai (território que, para Barack Obama, fica na Ásia!), ouviram o presidente a queixar-se de que os EUA têm sido um pouco «preguiçosos» na captação de investimento externo nos últimos 20 anos – período de tempo que inclui, note-se, não só as presidências dos dois George Bush (pai e filho) mas também a de Bill Clinton…
Na verdade, não constituiu uma surpresa que, mais uma vez (e já foram tantas!), o Nº 44 tenha, junto de estrangeiros, criticado, desvalorizado e até troçado (d)os seus compatriotas e/ou (d)o seu país, que considera já ter sido ultrapassado (pelos chineses) e pelo qual já pediu desculpa (aos muçulmanos)… Novamente mostrou não ter uma atitude e um comportamento «presidenciáveis», mas este incidente revestiu-se de uma ironia especial: é que o próprio Barack Obama, sempre ansioso, pressuroso, em aprovar a sua «jobs bill» (que é, sim, mais um plano de estímulo – leia-se «de despesa» - disfarçado) e em acusar o(s republicanos do) Congresso de nada fazer(em) para dinamizar a economia, se mostrou efectivamente… preguiçoso ao (não) tomar, recentemente, decisões que afectam – isto é, impedem – a aplicação de investimento e a criação de empregos!
São dois os casos principais em questão que demonstram aquela asserção. O primeiro é o da iniciativa da Boeing de construir uma nova fábrica na Carolina do Sul; o «problema» é que naquele Estado vigora o «right to work», ou seja, tem uma lei que proíbe a inscrição obrigatória em sindicatos, e estes, tradicionais apoiantes dos democratas, não hesitaram, por si próprios e através do National Labor Relations Board (um organismo do governo federal) em contestar (judicialmente) e em (tentar) impedir o investimento (interno) da conhecida companhia aero-espacial. O segundo caso é o da intenção da empresa TransCanada de construir um novo oleoduto (o Keystone XL) desde Alberta até ao Golfo do México; o «problema» é que, para não hostilizar os ecologistas – incluindo algumas «estrelas hollywoodescas» - que também são tradicionais apoiantes dos democratas, Barack Obama adiou a tomada de uma decisão para 2013… sim, exactamente, para depois da eleição presidencial!   
Porém, não se pense que estes são os únicos exemplos de sobreposição dos (seus) interesses políticos aos económicos por parte da actual administração norte-americana: sabe-se agora que o Departamento de Energia pediu à Solyndra que adiasse o anúncio de despedimentos para depois das eleições de Novembro de 2010 para, assim, não prejudicar (mais) os resultados dos democratas… Enfim, é sempre útil saber quais são as verdadeiras prioridades de quem ocupa a Casa Branca.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Recordar Mark Twain…

… Que disse, no final da sua vida, e a propósito de um seu obituário prematuramente publicado, que «as notícias da minha morte são grandemente exageradas», é o que me ocorre fazer quando leio as «previsões», ou até mesmo as «determinações» sumárias da «morte política» - ou, pelo menos, «morte política» na presente campanha presidencial norte-americana – de alguns candidatos, nomeadamente Herman Cain e Rick Perry.
É, na verdade, muito arriscado, atrevido, e até ridículo, estar a afirmar peremptoriamente, «preto no branco», que determinada pessoa está em «queda» (irreversível) ou que chegou ao «fim» («the end»!), porque cometeu (disse) um ou outro erro ou porque surgiram algumas alegações prejudiciais, e até acusações, quanto ao seu passado pessoal e/ou profissional. Regresse-se à realidade: a «queda» e o «fim» em política, e mais concretamente numa eleição específica, só acontecem a um candidato em três circunstâncias. Primeira, quando ele morre (mesmo!). Segunda, quando ele desiste (como fez Tim Pawlenty). Terceira, quando perde nos votos – uma, duas, três, várias vezes, todas as vezes, e/ou a última e decisiva vez. Não acontecem porque «especialistas (não muito) encartados» o dizem.
Herman Cain e Rick Perry não estão afastados da «corrida», e não só porque (ainda) não preenchem os três «requisitos» acima referidos. É também porque, em última análise, concorrem, não tanto um contra o outro e ambos contra os restantes candidatos pelo Partido Republicano, mas sim, principalmente, contra Barack Obama – contra o que este disse e, principalmente, contra o que fez (ou não). Compare-se: é assim tão grave que Perry tenha estado 53 segundos a tentar lembrar-se (e não conseguiu…) de qual era o terceiro departamento federal que extinguiria se fosse presidente… comparado com Obama a dizer que já tinha visitado «57 Estados»? É assim tão grave que Cain demonstre ter algumas deficiências na área das relações internacionais… comparado com Obama a dar a entender que pensa(va) que existe(ia) uma «língua austríaca»? Portanto, que tal um pouco de perspectiva, se fazem favor?
A «branca» de Rick Perry não tardou em ser (bem) aproveitada, com humor, pelo próprio e pela sua candidatura, que de imediato desafiaram os norte-americanos a indicarem qual o sector da burocracia governamental que gostariam de «esquecer»; a falha do governador do Texas poderá até ter servido para humanizá-lo e aproximá-lo ainda mais dos eleitores.
Quanto a Herman Cain… quase é preciso escolher por onde começar a desmontar a campanha de destruição que contra ele tem vindo a ser construída. Comportamentos impróprios? Compare-se com outro presidente democrata, Bill Clinton. Este, indubitavelmente, foi adúltero com várias mulheres, antes e depois de entrar na Casa Branca - com, por exemplo, e respectivamente, Gennifer Flowers e Monica Lewinski; e várias outras mulheres queixaram-se de terem recebido «propostas indecentes» de Bubba, como Paula Jones… e Kathleen Willey, que, agora, é apoiante de Cain! E no que se refere à frente externa… pois, está bem: alguma incerteza quanto à Líbia e incapacidade em dizer o nome do presidente do Uzbequistão. E daí? George W. Bush, quando se candidatou pela primeira vez, foi ridicularizado por não saber o nome do então presidente do Paquistão (Pervez Musharraf)… mas isso não o impediu de vencer e de estabelecer com o seu homólogo paquistanês uma ligação privilegiada na guerra contra o terrorismo. Agora, o que é mesmo incorrecto, e até indigno, é Hillary Clinton troçar da ignorância de um seu compatriota, mesmo que adversário político, em companhia de… Hamid Karzai, o «aliado» presidente do Afeganistão que se tem «distinguido», entre outras acções «beneméritas», por não atenuar – e até atiçar – os conflitos entre muçulmanos e cristãos, e afirmar que se colocaria ao lado do… Paquistão num eventual conflito entre aquele e os EUA! E aqui Cain estaria à vontade: ele pode (ainda) não ter certezas quanto a assuntos diplomáticos mas tem-nas sobre assuntos militares, já que foi especialista em balística na Marinha norte-americana e sabe muito bem que sistemas de mísseis (e outros) o país tem e pode utilizar em caso de conflito.
Numa campanha, numa «corrida» eleitoral, se é longa («maratona» e não «100 metros»), há sempre oportunidades para saltar para a frente… e cair para a retaguarda; e vice-versa. Nos EUA isso é ainda mais verdade. Veja-se Newt Gingrich: está a ressurgir nas sondagens e a aproximar-se do topo das preferências, mas quem iria prever isto quando, há poucos meses, estava perto do último lugar depois de ter criticado Paul Ryan e de vários dos seus colaboradores o terem deixado? E há que não esquecer outros factos que ainda o poderão prejudicar, entre os quais a sua ligação (muito bem remunerada) à Freddie Mac, a sua conta na Tiffany's, a sua (ocasional?) adesão à teoria - isto é, fraude - do «aquecimento global» e, claro, os seus divórcios... que, segundo Ann Coulter, o tornam «oficiosamente» inelegível. Nunca algum homem (previamente) divorciado se tornou presidente... com uma excepção: Ronald Reagan - mas este foi o abandonado (pela actriz Jane Wyman, sua primeira esposa) e não o que abandonou (como, por exemplo, John McCain...)
Assim, e por tudo isto, concluamos recorrendo novamente às irónicas palavras do autor das aventuras de Tom Sawyer e de Huckleberry Finn: «arranjem primeiro os vossos factos, e depois podem distorcê-los como quiserem.»  

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Hipócritas sem hipóteses

Diz-se que «mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo». E também se pode dizer que «mais depressa se apanha um hipócrita do que um mentiroso». Num contexto ultra-mediático como é o actual, com múltiplos e diversificados canais e recursos, dificilmente os hipócritas têm hipóteses de «escapar» a serem desmascarados.
O panorama político-cultural nos EUA não cessa de fornecer exemplos dessa evidência. Comece-se por Michael Moore: sempre pronto a criticar o capitalismo (o tema, aliás, do seu filme mais recente), não surpreendeu que viesse a público apoiar o movimento «Occupy Wall Street» e todas as suas «réplicas» a nível nacional. Porém, nem tudo lhe tem corrido bem desde então: irritou-se quando um repórter (da CBS) lhe perguntou se a sua fortuna – avaliada em 50 milhões de dólares – o tornava parte dos alegados «1%»… contra os quais os «ocupas» protestam; e talvez tenha lido um artigo escrito pelo produtor Gavin Polone e publicado no Hollywood Reporter, em que se descreve um acordo financeiro, feito em 2005, por uma empresa cinematográfica (a dos irmãos Weinstein) com… a Goldman Sachs, e do qual Moore foi um dos maiores (e poucos) beneficiados.
Na verdade, é uma característica comum a muitos «liberais» e «progressistas» a tendência para, frequentemente, «morderem a mão» de quem lhes «dá de comer». O Partido Democrata não tardou a receber inúmeros avisos vindos de uma certa rua em Nova Iorque assim que dirigentes daquele – a começar pelo actual presidente do país – começaram a manifestar simpatia e até apoio pelos «ocupas». Habituais financiadores dos «burros» avisaram: «não podem tê-lo de duas maneiras». E um empresário milionário, democrata… e afro-americano, Robert Johnson, foi claro: «penso que o presidente tem de recalibrar a sua mensagem. Não se consegue que as pessoas gostem de ti atacando-as ou rebaixando o sucesso delas.» E ainda criticou Barack Obama por optar pela demagogia «simplesmente porque Warren Buffet diz que paga mais (impostos) do que a sua secretária.»
E, ocasionalmente, nem é preciso que outros denunciem os hipócritas: os próprios se encarregam disso. Graças a um microfone ligado desapareceram as dúvidas (que já não eram muitas…) sobre o que o Sr. Hussein pensa do actual primeiro-ministro israelita; e certamente que Benjamin Nathaniahu não seria tão desrespeitado por um «comandante em chefe» republicano… qualquer que ele fosse. Como, por exemplo, Herman Cain, que actualmente enfrenta a pior das hipocrisias, a da «isenta» comunicação social, que, no que se refere a alegados casos de «assédio (ou abuso) sexual», dão ao candidato do GOP um destaque muito, muito maior do que os que deram a Bill Clinton e a John Edwards.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

«Recuperação» duvidosa

É verdade que não é a primeira vez que acontece, mas desta vez o «coro» dos meus estimados colegas-da-blogosfera-nacional-que-analisam-a-política-nos-EUA mostrou-se mais «afinado» do que nunca. A 2 de Novembro: «Obama recupera». No mesmo dia, três horas antes: «Obama recupera». A 15 de Outubro: «Barack dá sinais de vida».
Quem não soubesse do que se tratava poderia pensar, apenas pela leitura dos títulos, que o presidente norte-americano tinha sobrevivido a um grave acidente ou a uma doença… Mas não: o tema em comum era a alegada «recuperação» de Barack Obama nas sondagens, isto é, o (suposto) aumento da sua popularidade, e o (hipotético) retomar da iniciativa política por parte da sua administração. Porém, «desalinhado» e melhor informado como habitualmente, o Obamatório esclarece: quando muito, o Sr. Hussein viu diminuída, um pouco, a sua impopularidade; o seu «saldo» continua a ser negativo, pelo que o seu «estado» continua a ser… crítico.
E mesmo que se tratasse de um problema de saúde, do «ObamaCare» dificilmente viriam benefícios. O próprio Barack já admitiu que os custos irão aumentar… e, com tanta pressa em ver concretizada a sua «obra», até se engana no calendário de aplicação… O que já antes se verificava mantém-se e até se acentuou: são cada vez maiores e mais evidentes as desvantagens da «reforma» do sistema de saúde aprovada em 2009. Com efeito, o governo federal vai: desenhar um «pacote de benefícios básicos»… para cerca de 70 milhões de norte-americanos que já têm um seguro de saúde (!); exigir às seguradoras as informações e os dados constantes nos ficheiros dos seus clientes; obrigar todos os contribuintes a subsidiar abortos, contracepções e esterilizações – mesmo os que, por motivos religiosos (como os cristãos), se oponham. Alguém falou em «Grande Irmão»?          
Além de que, como não podia deixar de ser, deverá aumentar o tempo de espera para receber cuidados de saúde. Mas isso, segundo Michael Moore, não é um problema para os «americanos patriotas». E, em alternativa, ele poderá levá-los para Cuba, esse país democrático e desenvolvido…