domingo, 2 de setembro de 2012

Respeitar as convenções

Está-se num momento de «transição» entre as convenções nacionais dos dois principais partidos políticos dos Estados Unidos da América. A republicana, realizada em Tampa, na Flórida, terminou na passada quinta-feira, dia 30 de Agosto, e confirmou Mitt Romney e Paul Ryan como candidatos aos cargos, respectivamente, de presidente e de vice-presidente. A democrata, que vai realizar-se em Charlotte, na Carolina do Norte, começa amanhã, dia 3 de Setembro, e confirmará Barack Obama e Joseph Biden como recandidatos aos mesmos cargos.
Porém, os dois eventos não são, obviamente, imunes a acontecimentos políticos prévios mais ou menos relevantes. E um «incidente verbal» - mais um entre muitas dezenas (a justificarem, provavelmente e proximamente, um texto especial) – protagonizado há cerca de duas semanas precisamente por Joe Biden exemplifica, simboliza perfeitamente as diferenças de atitude não só entre as duas candidaturas mas também entre os dois partidos. A 14 de Agosto, num comício de campanha em Danville, na Virgínia, frente a uma audiência predominantemente afro-americana, o vice-presidente «avisou» que os republicanos, se vencerem, «vão voltar a pôr-vos em correntes». É preciso explicar até que ponto isto é ofensivo, estúpido e quase criminoso? Um alto dirigente de um partido que tem na sua essência e no seu historial a escravatura, o racismo e a segregação a dizer que os herdeiros dos abolicionistas é que querem «acorrentar» negros?
As reacções, as respostas, multiplicaram-se (houve em Portugal algum outro local, sem ser no Obamatório, onde tenham tido conhecimento disto?), umas mais previsíveis do que outras. Os democratas, obviamente, a começar por Barack Obama, desculparam, desvalorizaram este (mais um) vómito verbal de Biden (porque, como se sabe, há uma «competição» permanente no campo azul para expelir o mais repelente), mas o que mais continua a surpreender (ou já nem isso…) é a atitude de alguns (talvez representando a maioria, mas não todos) afro-americanos do PD perante alarvidades como esta. Douglas Wilder foi uma das (muito) poucas vozes que não chegam para compensar, para contrabalançar as fracas figuras de Emanuel Cleaver, Russell Simmons e William Keen, autênticos «Tios Tomás» dos tempos modernos, novos e voluntários escravos dos seus «donos e senhores» democratas, que renunciam a ser pessoas e se contentam em serem coisas, adereços, de disputas políticas dos «patrões brancos». E esta «reprodução» de miserabilismo (mental, pelo menos) continua: repare-se em Touré Neblett, quiçá sobrevivente da Planned Parenthood (apesar de tentarem incansavelmente, os continuadores de Margaret Sanger não conseguem abortar todos os «bebés pretos feios»), tão novo e já tão sacana, a dizer que Mitt Romney promove a «escarumbização» («niggerization», no original) de Barack Obama! E porquê? Porque o candidato republicano, defendendo-se das inacreditáveis e injustas acusações de que tem sido alvo (que incluem assassinato e fuga aos impostos), caracterizou, e correctamente, a campanha do seu adversário como sendo animada por sentimentos de «divisionismo, zanga e ódio»… e, para aquele fedelho, um homem branco equipara «zangado» a «negro»! Atente-se nisto: Biden faz uma afirmação realmente racista… mas os democratas dizem que não foi; Romney riposta, e por o fazer os democratas dizem que ele é racista! Claro que eles querem que os republicanos fiquem calados, porque só assim talvez não haja «perigo»… por exemplo, de os «Novos Panteras Negras», tão «conhecedores» da história dos EUA, atacarem ou até matarem aqueles. Infelizmente, homens como Allen West ainda são excepções à regra.
No entanto, e no dia seguinte, 15 de Agosto, aconteceu um acto pior do que quaisquer palavras: um indivíduo entrou no escritório de Washington do Family Research Council, uma instituição católica, conservadora, que se opõe ao aborto e ao «casamento» entre pessoas do mesmo sexo; depois de afirmar que se opunha às posições do FRC, sacou de uma pistola (tinha igualmente dezenas de munições) e, no átrio, disparou sobre um segurança que, apesar de ferido, conseguiu desarmar e imobilizar o atacante com a ajuda posterior de alguns colegas – impedindo assim, quase de certeza, a concretização de um massacre com dezenas de vítimas caso o invasor tivesse conseguido aceder aos gabinetes.
As reacções, as respostas, multiplicaram-se (houve em Portugal algum outro local, sem ser no Obamatório, onde tenham tido conhecimento disto?), umas mais previsíveis do que outras. Como as dos principais membros da lamestream media, que pouca, nenhuma – ou muito atrasada – cobertura deram ao assunto. Soube-se depois o mais que provável motivo: o criminoso é, ou tinha sido até recentemente, voluntário em organizações LGBT, organizações essas que haviam classificado o FRC como… um «hate group», um «grupo que promove o ódio» por… ser contra o «casamento» entre pessoas do mesmo sexo! Decididamente, há ironias mais perigosas do que outras… Não será demais lembrar que essas organizações LGBT, que classificam de «odiosas» outras que têm ideias diferentes das suas e que são (i)moralmente responsáveis pelo ataque ao FRC, estão agora plenamente integradas no Partido Democrata – e serão sem dúvida bem visíveis na convenção que começa amanhã – devido à «conversão», ao «sair do armário» de Barack Obama a favor do «casamento» gay – no que representou, na verdade, pelo menos a sua segunda mudança de posiçãoflip-flop») sobre este assunto enquanto político. Porque, como fizeram notar, respectivamente, Rahm Emanuel e Chuck Todd, o dinheiro dos judeus e o de Wall Street (nas campanhas eleitorais democratas) foram, ou estão a ser, substituídos pelo dinheiro dos homossexuais.
Esta é, aliás, outra área em que se podem estabelecer analogias entre José Sócrates e Barack Obama: tanto Portugal como os EUA estão, ficaram, muito piores depois da passagem de ambos pelo poder, mais fragilizados financeira e socialmente, mais deprimidos anímica e materialmente; só numa matéria se verificaram «avanços», «progressos», e essa é a dos «direitos LGBT», pelo que não surpreende que seja entre os activistas da homossexualidade que tanto Sócrates como Obama têm os seus defensores mais empenhados; todavia, há que reconhecer que, por exemplo, Eduardo Pitta e Miguel Vale de Almeida, apesar de serem intelectualmente desonestos, nunca, até agora (que eu saiba), atingiram os extremos de abjecção de que, por exemplo, Andrew Sullivan e Dan Savage mostraram ser capazes… tal como alguns dos seus «companheiros de luta» convidados a visitar a Casa Branca em Junho último e que decidiram «posar», à maneira deles, frente ao retrato de Ronald Reagan. (Adenda: e há outros daqueles... activistas portugueses, também intelectualmente desonestos, que defendem o actual presidente norte-americano.)  
E que «bom» que seria que os democratas limitassem os seus comportamentos desviantes às campanhas eleitorais. Contudo, e para cúmulo, estendem-nos ao próprio acto de votar. Uma das suas maiores «taras» é contestar, combater, a obrigatoriedade de apresentar um cartão de identificação com fotografia aquando de eleições, porque isso, para eles, significa «discriminar» os eleitores mais desfavorecidos, em especial os das minorias («racismo»!) e impedi-los de ir às urnas! É claro que esse requisito é também exigido para tarefas tão prosaicas como, entre muitas outras, alugar um DVD, comprar bebidas alcoólicas e tabaco… e entrar na convenção democrata! Face a estes argumentos, Bernard Whitman, «estratega» dos «azuis», limitou-se a desconversar, e não respondeu quando Sean Hannity lhe perguntou: «você não tem vergonha? Vocês (democratas) não têm vergonha?!» Não, não têm. Nem todos querem respeitar as mais básicas convenções… da civilidade. Todd Akin fez afirmações gravíssimas? Sim, e todos os principais dirigentes do GOP foram inequívocos em criticá-lo, em condená-lo… e em «convidá-lo» a desistir da sua candidatura ao Senado; do outro lado, o mesmo não aconteceu com as afirmações de Joe Biden… a começar com o actual presidente dos EUA. E esta é (um)a grande diferença.  

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