sexta-feira, 19 de outubro de 2012

iMEDIAtaMENTE! (Parte 2)

Este texto começou por ser uma adenda ao post anterior, mas o tema é suficientemente importante para merecer um post próprio… Ao contrário de outros, eu não «salto» logo a «declarar» o vencedor. Não é novidade – e esta semana isso foi novamente confirmado – que se deve esperar até à manhã seguinte a um debate político para se saber, com toda a certeza, o que de mais importante dele resultou… e ficou. Do segundo entre Barack Obama e Mitt Romney, realizado em Nova Iorque, mais do que as mentiras habituais por parte do incumbente, essa ideia – essa certeza – principal foi a de que o moderador, o «árbitro», entrou no «jogo» para beneficiar um dos contendores: o actual presidente.
Foi precisamente isso que Candy Crowley, jornalista da CNN, fez na passada terça-feira. Ao, inacreditavelmente, arrogar-se «corrigir» um dos candidatos em favor do outro, algo inédito (tanto quanto julgo saber) em toda a história política norte-americana, ela efectivamente «despiu» a capa de «imparcialidade», de «isenção», de «equidistância», e mostrou, e confirmou, aquilo que é: (mais) um(a) operativa(o) democrata sob um disfarce de observador. Note-se que ela seria merecedora de igual crítica e de condenação se, inversamente, tivesse beneficiado, ajudado, Mitt Romney. Mas sinceramente: é de acreditar que isso alguma vez pudesse acontecer? Pode-se e deve-se recordar afirmações anteriores por parte de Crowley que denunciavam a sua «inclinação», em especial a de que a adição de Paul Ryan ao ticket republicano poderia significar como que um «death wish». A sua actuação desastrosa, vergonhosa, só mostrou que os (pre)conceitos que os conservadores têm em relação a grande parte dos media estão correctos
… E o mais irónico, em última análise, é que Candy Crowley estava errada, que Mitt Romney tinha razão, como aliás ela própria acabou por admitir depois! Barack Obama não afirmou, especificamente, que o ataque ao consulado em Benghazi, era um «acto de terror», ou «terrorismo» - antes o designou, concretamente, como «(um) este tipo de violência insensata». Violência essa que seria consequência de um vídeo, disponível no YouTube, que «incitou à violência» dos muçulmanos, que na Líbia se traduziu inclusivamente na morte de quatro norte-americanos, incluindo o embaixador… Mentira, como agora se sabe; porém, o próprio presidente, a sua secretária de Estado Hillary Clinton, a sua embaixadora Susan Rice, o seu porta-voz Jay Carney, e outros na administração, durante semanas repetiram essa mentira, de que o ataque não fora planeado, que não tinham informação sobre possíveis ataques, que não tinham recebido pedidos de reforço da segurança…
Tudo isto existe (ou existiu, aconteceu), tudo isto é triste, e tudo isto não tinha de ser o «fado» da política norte-americana, desta campanha e deste debate. Mas foi, é, e há que reconhecê-lo. No entanto, há quem tenha escolhido destacar daquele um outro momento mais… «importante». Concretamente, o de quando Romney se referiu aos «binders (arquivos, ficheiros) full of women». Decididamente, para alguns, nunca nada do que o ex-governador do Massachusetts – e qualquer republicano em geral – possa dizer ou fazer será positivo. É «preso por ter cão» e «preso por não o ter»! Então em vez de o elogiarem, de o louvarem, por ter tomado a iniciativa de procurar e de contratar mulheres competentes e qualificadas para o seu gabinete em Boston, contestam-no por causa da expressão que utilizou… e que corresponde exactamente, prosaicamente, ao que aconteceu? Uma medida concreta de (tentativa de) diminuição das «desigualdades de género», que supostamente deveria agradar aos «progressistas de trazer por casa», é desvalorizada por não ser protagonizada pela «pessoa certa», e reduzida como que à condição de «piada de mau gosto» que «denuncia» o alegado «pouco respeito» que Romney e o GOP têm pelo «belo sexo». Enfim, é a «guerra às mulheres» que assim continua… em prejuízo dos «burros» que, por este andar, e a continuarem a insistir em insignificâncias (outra foi a do «Big Bird», o «Poupas» da «Rua Sésamo»), arriscam-se a perder e por larga margem.
Se querem escolher e destacar verdadeiras gaffes cometidas no segundo debate, que tal a de Barack Obama a dizer que um baixo preço de gasolina é sinal de uma má economia? Ou a de que – ecoando, mais uma vez, o «complexo de Messias» inerente ao seu culto da personalidade – ele terá, pela oração, recuperado, e curado, um jovem ferido? Não convém, pois não? Tal como não convém informar, divulgar, que nos três debates até agora realizados - «coincidência», claro! – os candidatos republicanos falaram menos tempo e foram mais vezes interrompidos (pelos opositores e pelos «moderadores») do que os seus congéneres democratas. Talvez porque - como ridiculamente sugeriu o chefe de Candy Crowley na CNN tentando desculpabilizar a sua colega - Barack Obama é mais lento a falar e, logo, diz menos palavras do que Romney… Estará a chamar «preguiçoso» ao presidente? «Racista»!
Também em Portugal se deu destaque ao ataque – a tiro! – a uma das delegações da campanha democrata. Todavia, não me parece que alguma vez tenham falado de incidentes semelhantes envolvendo instalações republicanas, nem vi, até ao momento, qualquer referência às (muitas) ameaças de morte contra o governador, e de motins, caso ele ganhe a eleição. Soube-se disto em Portugal sem ser no Obamatório? E quem é que soube, sem ser aqui, que houve «jornalistas» na Universidade de Hofstra que aplaudiram Barack Obama numa «sala ao lado», tal como Michelle no próprio auditório, assim desrespeitando as regras? Recuando mais um pouco no tempo, quem é que sabe que no tão «respeitável» New York Times há o hábito de enviar textos para a Casa Branca a fim de se obter «aprovação prévia»? Que na NBC há já uma «tradição» de editar vídeos enviesadamente? Que a CNN «revelou» que os economistas apoiam «relutantemente» Mitt Romney numa proporção de três para um? Estes são apenas alguns, poucos, exemplos, dos muitos, dezenas, quiçá centenas possíveis, que vêm sendo acumulados há décadas, e que o Media Research Center diligentemente tem descoberto, exposto e denunciado. Contudo, a situação nunca esteve tão má como agora. Para Patrick Caddell, consultor eleitoral democrata que trabalhou para George McGovern, James Carter e Gary Heart, o problema já não é «apenas» de bias mas sim de um autêntico comportamento criminoso que põe em causa o futuro do país; os media tornaram-se inclusivamente num «inimigo do povo americano».
Sim, os media mentem, imediatamente ou posteriormente, por acção ou por omissão, mas nem sempre é deliberadamente, maliciosamente. Por vezes é por ignorância ou por estupidez. Assim como houve gente capaz de acreditar que Mitt Romney queria abrir as janelas de aviões, também há os que acreditam que ele dançou «Gangnam Style» na convenção republicana. Claramente, não costumam ver «The Tonight Show» com Jay Leno nem sabem as brincadeiras que, com recurso à manipulação de imagens, regularmente se fazem por lá… Porém, e pelo menos, essas manipulações, por serem humorísticas, não são eticamente reprováveis.

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