domingo, 24 de março de 2013

Diplomacia… macia (Parte 2)

(Uma adenda no final deste texto.)
Barack Obama fez, nesta semana, uma breve viagem ao Médio Oriente. E, com a excepção de aquela ter incluído a sua primeira visita a Israel, não se vislumbra(ra)m quaisquer vantagens, quaisquer resultados úteis deste périplo… deste passeio (mais um) com o Air Force One. 
Antes de mais, passou apenas por dois países: para além da pátria judaica, a Jordânia – enfim, três, pois também foi à Cisjordânia, ou seja, à Autoridade Palestiniana, onde comparou o relacionamento entre israelitas e palestinianos com relacionamento entre… norte-americanos e canadianos! Mais do que um comentador se interrogou se alguma vez do Canadá foram lançados mísseis contra os EUA… Em Israel deu-se ao desplante de «dar lições» de empatia aos israelitas em relação aos palestinianos… como se não fossem estes que não reconhecem àqueles o direito de viver numa nação própria; antes tinha sido «recebido» com uma «salva de boas-vindas» de foguetes (mais uma) disparados da Faixa de Gaza pelo Hamas – pelo que aquela presunção, do início da sua presidência, de que os EUA passariam a ser melhor vistos pelos muçulmanos por ele ter vivido entre eles é já só uma distante memória… se é que alguma vez teve um mínimo de consistência.
É de questionar por que motivo este périplo não incluiu mais países daquela zona do Mundo. Nomeadamente, especialmente, o Egipto. Terá Barack Obama concordado com a advertência que terá sido feito pelo Rei Abdullah da Jordânia para «ter cuidado com a Irmandade Muçulmana»? Uma organização que a actual administração norte-americana tanto incentivou e de que tanto esperou aquando da «Primavera Árabe»? Porém, e aparentemente, a passividade das autoridades do Cairo aquando do ataque, a 11 de Setembro último, à embaixada dos EUA na capital egípcia não terá prejudicado a confiança da Casa Branca nos novos senhores do Nilo. Se assim não fosse, não teriam aprovado a oferta de aviões F-16, a venda de gás lacrimogéneo e a concessão de uma ajuda financeira no valor de 250 milhões de dólares – e isto num período em que os cortes resultantes do «sequestro» (decidido por BHO) fizeram cancelar as visitas de crianças ao Nº 1600 da Avenida de Pensilvânia. Na verdade, o que há a recear de Mohammed Morsi e dos seus comparsas? O presidente do Egipto «apenas» tem no seu «cadastro» afirmações (de 2010) como a de que os judeus são «sanguessugas descendentes de macacos e de porcos» ou a de que «devemos educar os nossos filhos e netos no ódio aos judeus»; já o seu assessor principal, Fathi Shihab Eddim, afirmou este ano que o Holocausto é «um mito e uma indústria que a América inventou». Sim, «não há» dúvida de que o actual Egipto é um aliado «credível» dos EUA e de Israel. «Certeza» que ficou sem dúvida «reforçada» com a condenação em tribunal, também já em 2013, de toda uma família (mãe e sete filhos) a 15 anos de prisão por se terem convertido ao Cristianismo. Mas a oposição popular à Irmandade Muçulmana existe na terra dos faraós; muitos têm-se manifestado regularmente e não se mostram contentes com a colaboração – ou, pelo menos, a tolerância – do governo norte-americano com Morsi e companhia.
Outro país que «ficava no caminho» - de ida e de volta – de Barack Obama, e no qual ele poderia ter feito uma «escala», era a Líbia. Seria talvez uma oportunidade para o presidente esclarecer o que de facto aconteceu em Benghazi, também a 11 de Setembro de 2012, e o que ele fez então em Washington… ou não fez. Leon Panetta, então secretário da Defesa, e (o general) Martin Dempsey, então coordenador do comité militar conjunto (chair of the Joint Chiefs of Staff), declararam-no, inequivocamente, numa audiência no Senado: o presidente foi informado, brevemente, do ataque ao consulado norte-americano naquela cidade líbia logo após ter começado e, depois, não mais voltou a querer saber do que se passava lá. Este comportamento só pode ter uma classificação: criminoso. Nos dias e semanas seguintes, e como se sabe, mentiu sobre as causas e as circunstâncias daquele atentado, para não prejudicar a sua campanha de reeleição. E até se permitiu fazer humor, lançar uma piada, com as mortes de quatro compatriotas, incluindo o embaixador, que ele provavelmente conheceu em Chicago…     
… E a sua então secretária de Estado Hillary Clinton é igualmente culpada, co-(ir)responsável por este e por outros fracassos na política externa e de segurança dos últimos quatro anos – embora o de Benghazi tenha sido, indubitavelmente, o maior e o pior, e não só de 2012. Só mesmo quem é completamente ignorante ou intelectualmente desonesto é que pode afirmar que a mulher de Bill foi uma excelente ministra dos negócios estrangeiros. Barack Obama, claro, pertence à segunda (falta de) categoria, acrescida por uma (habitual) falta de gramática: Hillary foi «uma das melhores secretária de Estados»… sim, foi tão «boa» e tão «competente» que, na mesma ocasião (uma conferência, em Janeiro) em que equiparou os republicanos a terroristas muçulmanos (uma práctica habitual no Partido Democrata), também expressou a sua «grande esperança» de um dia poder sentar-se à mesma mesa, e negociar, com o Hamas! E nem tudo o que aconteceu na Líbia lhe mereceu o mesmo comportamento, o que se «compreende»… Ela recusou-se a dar entrevistas após o atentado de 11 de Setembro último, mas quando em 2011 o regime de Muhammar Khadaffi foi derrubado e o ditador morto, ela não teve qualquer problema em vangloriar-se na televisão… Causa, pois, alguma surpresa que ela tenha tido o atrevimento de perguntar, e de exclamar, durante a sua audiência final no Senado enquanto secretária de Estado, «que diferença é que faz» saber como e porque é que aconteceu o ataque ao consulado de Benghazi e as mortes de quatro compatriotas? Mas, sim, faz toda a diferença. O seu comportamento foi vergonhoso, indigno da posição que ocupava… e sem dúvida que será recordado se e quando ela se candidatar a presidente em 2016.
Se Hillary Clinton foi má, ou pelo menos medíocre, enquanto chefe da diplomacia norte-americana, o seu sucessor no cargo reúne todos os «atributos» para ser ainda pior… Recorde-se que John Kerry acusou compatriotas seus de cometerem crimes de guerra no Vietnam e no Iraque; votou contra a Guerra do Golfo (de 1991); visitou regularmente Bashar Al-Assad na Síria; investiu em empresas acusadas de violarem as sanções comerciais contra o Irão. Enfim, os seus dislates na área dos negócios estrangeiros já foram tantos que permitiram a elaboração de uma lista dos seus «dez maiores erros». E, assim que se viu confirmado e empossado no seu novo cargo, não perdeu tempo a procurar mais itens para uma próxima lista. O seu primeiro discurso enquanto secretário de Estado não foi sobre a Coreia do Norte, a China, o Médio Oriente, a Rússia, Europa, África ou a América Latina mas sim sobre… o «aquecimento global»! «Inventou» um país… o «Quirzaquistão» - nada de especial, tendo em conta que Barack Obama «inventou» (pelo menos) mais sete Estados norte-americanos. E em Berlim «esclareceu» uma audiência de estudantes alemães que nos EUA qualquer cidadão tem «o direito de ser estúpido»; um «direito» que, com efeito, ele exerce frequentemente. 
Não sejamos, no entanto, demasiado «duros» com Hillary Clinton e com John Kerry. Eles podem ser, oficialmente, as figuras de proa desta actual diplomacia… macia – e ridícula – norte-americana, mas, na verdade, mais não fazem do que cumprir as directivas do «chefe». A «Doutrina Obama» na política externa, se é que ela existe, revelou-se um fracasso, que ele não admite, e até critica um jornalista – o habitualmente «fiel» Chuck Todd! – que sugeriu isso. Um livro recentemente publicado caracteriza-o, neste âmbito, como um presidente mal aconselhado, «hesitante, controlador e avesso a atitudes de risco» – isto é, atitudes de risco contra inimigos. O que talvez explique porque a actual administração continua a recusar a divulgação de informações – incluindo imagens – do «funeral» de Osama Bin Laden, porque tal poderia «inflamar tensões entre populações estrangeiras que incluem membros ou simpatizantes da Al-Qaeda». Ou que tenha concedido à Arábia Saudita, e aos seus habitantes, o privilégio de «viajante(s) de confiança», ou seja, a possibilidade de entrarem nos EUA com menores – ou inexistentes – formalidades burocráticas… algo de que os cidadãos, por exemplo, do Reino Unido, da França, da Alemanha e de Israel ainda não dispõem. Recorde-se que a Arábia Saudita - perante cujo rei BHO já se curvou - «forneceu» 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro de 2001; e no seu território ainda se fazem crucificações. Vão se percebendo os critérios do Sr. Hussein para escolher os «países amigos».
(Adenda – Em 2012, Barack Obama recusou-se a falar, na Universidade de Georgetown, sob um símbolo de Jesus Cristo. Todavia, em 2013, nesta sua viagem ao Médio Oriente, aceitou falar sob uma – grande – fotografia de Yasser Arafat; posteriormente, foi noticiado que os EUA haviam concedido à Autoridade Palestiniana uma ajuda financeira de 500 milhões de dólares. Continuam a perceber-se as prioridades desta presidência…)   

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