quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O aprendiz de ditador

(Três adendas no final deste texto.)
Barack Obama proferiu ontem perante os membros das duas câmaras do Congresso mais um discurso do Estado da União. E, como era previsível, nada teve de verdadeiramente novo e de substancial; pelo contrário, nele abundaram frases feitas, as ilusões e as promessas já habituais e conhecidas… até a de encerrar a prisão de Guantánamo! Pior: terá copiado partes de um discurso feito por George W. Bush em 2007! Sinceramente: algo do que ele disse no Capitólio merece seriamente ser acreditado ou considerado? Aliás, porque é que ele se deu ao trabalho de ir até lá e falar (durante mais de uma hora)? Só pode ter sido para provocar…
… Porque ele já deu a entender frequentemente, e com especial insistência nas últimas semanas, que não hesitará em usar e abusar (d)as ordens executivas – e da intervenção do governo federal e dos seus departamentos – se os legisladores não mostrarem maior vontade e rapidez em concretizar a agenda presidencial; ou, por outras e poucas palavras, que não precisa da Casa e do Senado seja para o que for. As ameaças têm-se sucedido, quer indirectamente, através de depoimentos por fontes não identificadas da Casa Branca, quer directamente, através de discursos em que o Sr. Hussein diz que tem «uma caneta e um telefone» e que actuará por conta própria sem o Congresso… não uma mas duas vezes! Mark Levin não duvida – e não é o único – de que o Nº 44 está a proceder a um «golpe de Estado gradual e silencioso»… o que não é verdade, porque ele não tem parado de proclamar, alto e bom som, quais são as suas verdadeiras intenções…
… Que estão em consonância com as habitualmente demonstradas por um qualquer ditador… ou aprendiz de ditador. A que não falta, para a caricatura em traços africanos e sul-americanos ser completa, a alegada preocupação com as agruras do povo através da recente e constante referência ao problema da «desigualdade de rendimento» («income inequality»)… enquanto, em simultâneo, no que é uma demonstração, mais uma, de hipocrisia, não corta nos luxos, pagos pelos contribuintes, para si e para a sua família – as férias de Natal e de Ano Novo no Havai terão custado aos contribuintes cerca de quatro milhões de dólares; e ainda teve o descaramento de criticar os políticos que foram passar a quadra natalícia nas suas terras com as famílias e que deixaram problemas por resolver, quando ele próprio esteve mais de duas semanas longe de Washington… Junte-se a isso a festa do quinquagésimo aniversário de Michelle Obama, cujo custo até Jonathan Karl quis saber, e fica desmascarada a suposta preocupação com os mais pobres.   
A hipocrisia vai mais longe e é mais grave, porque têm sido as suas decisões, as suas políticas, que mais têm contribuído para essa «desigualdade de rendimento», que é real e que tem uma dimensão que há muito tempo não era atingida. Não acreditem nos que dizem que a economia dos EUA está bem, está melhor, a progredir, a «recuperar». Os verdadeiros números indicam precisamente o contrário. Eis alguns mais recentes: o país saiu da lista dos «dez mais» em liberdade económica; em Dezembro só 74 mil empregos foram criados; 91,8 milhões de pessoas não estão na força de trabalho; a taxa de desemprego real é de 37,2%. Aliás, a insistência bastante estridente da Casa Branca junto do Congresso na aprovação de uma extensão do subsídio de desemprego é a demonstração inequívoca de que, neste âmbito, as percentagens oficiais não são credíveis. E o anúncio de que Barack Obama vai aumentar, por ordem executiva, o salário mínimo de (alguns) funcionários públicos é não só outro indício da fragilidade económica do país e da necessidade de «consolidar as bases» (leia-se «sindicatos»): também é mais uma confirmação dos impulsos – ditatoriais – do Sr. Hussein. Ele continua a esquecer-se, ou a não querer saber, de que não governa sozinho e que deve negociar com a oposição (Ronald Reagan e Bill Clinton fizeram-no): os republicanos têm tanta legitimidade eleitoral e democrática quanto ele, pelo que têm o direito e o dever de fazerem o «obstrucionismo» que quiserem.    
O declínio dos EUA na economia sob Barack Obama só é igualado, e talvez superado, pela desagregação na política externa. O «Grande Satanás» já não é respeitado nem receado. Com efeito, no Irão gostou-se tanto do acordo que supostamente travaria a nuclearização dos «ai-a-tolas» que o seu presidente, Hassan Rouhani, alardeou que «as potências mundiais renderam-se»; e o ministro dos negócios estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, garantiu (à CNN) que «não concordámos em desmantelar fosse o que fosse»… uma semana depois de ir a Beirute depor uma coroa de flores no túmulo de um dos maiores/piores terroristas de sempre, Imad Mughniyeh, do Hezbollah, culpado e/ou envolvido de/em vários atentados contra norte-americanos. Entretanto, o embaixador iraquiano em Washington, Lukman Faily, critica BHO e compara-o desfavoravelmente a George W. Bush. No Afeganistão a (aqui, sim, verdadeira) «guerra às mulheres» nunca foi tão grave. Atendendo a tudo isto, são verdadeiramente surpreendentes as revelações de Robert Gates no seu livro «Duty», recentemente editado, sobre a incompetência, inexperiência e/ou leviandade não só do Nº 44 mas também de Joe Biden e de Hillary Clinton? No Reino Unido, Hew Strachan, conselheiro das forças armadas britânicas, é ainda mais… expressivo: Obama é «cronicamente incapaz» em termos de estratégia, e, ao contrário de GWB, não tem qualquer «senso sobre o que quer fazer no Mundo», o que explica a maneira «maluca» como a crise na Síria foi tratada pela Casa Branca.      
Não há melhor sinal – e prova – do desastre que é esta presidência do que a multiplicação de democratas a criticá-la. Brian Schweitzer, ex-governador do Montana e potencial candidato para 2016, não consegue apontar um único aspecto positivo daquela: «a minha mãe disse-me que "se não tens nada de simpático para dizer muda de assunto”». Ann Kirkpatrick, congressista pelo Arizona, menciona num anúncio a «espantosa inépcia» na aplicação do «ObamaCare». Fareed Zakaria, apresentador e analista na CNN que já foi «conselheiro informal» do Sr. Hussein, referiu-se ao acordo com o Irão como um «descarrilamento». Howard Finemann, da MSNBC, afirmou que, com 43% de popularidade, Barack Obama «não é levado a sério» em Washington. E há o ex-membro do gabinete de BHO, citado, mas não identificado, por Peter Hamby da CNN, que admitiu que o Nº 44 «é realmente bom a fazer campanha. Talvez não a governar». Que «novidade»!
O facto de, regularmente, Barack continuar a dar… «barraca» também não ajuda a que os seus camaradas mantenham a confiança nele. Em Novembro passado emitiu uma ordem executiva sobre as «alterações climáticas» prevendo (e alertando para) as «temperaturas excessivamente altas» que, supostamente, estavam já a prejudicar a saúde pública… sim, o «aquecimento global» é tal que, por causa do frio e da neve, na Geórgia foi declarado o estado de emergência e na Flórida foram encerradas escolas; mais recentemente, em vez de «Dominican Republic» disse «Dominican Republican», e que foram precisos «150 anos» depois da guerra civil para os negros se aproximarem da igualdade formal com os brancos. Fossem estas, e outras, gaffes de GWB e já teriam sido largamente divulgadas…
No início de Janeiro, em discurso no Senado em que apelou a uma cooperação bi-partidária, Harry Reid declarou que o objectivo dos republicanos no Congresso é «fazerem tudo o que puderem para que o Presidente Obama fique mal visto». O velho sacana do Nevada que não seja injusto: como já está amplamente demonstrado, o «Barry» é capaz de conseguir isso sozinho.
(Adenda – Ainda sobre o discurso do Estado da União são de ler, entre outros, os artigos de Chriss W. Street, Douglas E. Schoen, Erick Erickson, Howard Kurtz, John Fund, Michael Snyder, Mike HuckabeeRon Fournier e Todd S. Purdum.)
(Segunda adenda – Vários outros observadores, entre os quais Glenn Beck, utilizam a palavra «ditador» a propósito de Barack Obama. Não surge por acaso, não é um insulto injustificado: é um termo confirmado pelo seu comportamento, pelas suas afirmações e acções. Ele já disse que não é um, mas a verdade é que a reincidência em hipocrisias e mentiras não é característica de um autêntico adepto da democracia. Exemplos? No discurso da passada terça-feira ele: criticou a diferença salarial entre homens e mulheres nos EUA… que, porém, se verifica na Casa Branca (!); «exagerou» o número de inscrições no ACA; e «garantiu» que o Irão já começou a eliminar as suas reservas de urânio enriquecido. É por isto, e muito mais, que alusões a alegados «puxões de orelhas» feitos por BHO aos republicanos, como no Público e no Sol, são ridículas. Se há alguém que se tem portado infantilmente… é o «Barry».)
(Terceira adenda – Uma coisa é Barack Obama ser entrevistado… ou, melhor dizendo, ser bajulado por adoradores impenitentes que deitam fora a deontologia profissional em prol do «querido líder». Outra coisa, bem diferente, é ele ser entrevistado… ou, melhor dizendo, ser interrogado por verdadeiros jornalistas. Como Jake Tapper e Bill O’Reilly (parte um, parte dois).)       

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