domingo, 12 de janeiro de 2014

«The (New York) Times isn’t a-changin’»

(Três adendas no final deste texto.)
No conjunto de órgãos de comunicação social dos Estados Unidos da América que formam a habitualmente designada mainstream media – ou lamestream media, como lhe chama Sarah Palin – e que funcionam oficiosamente, quando não declaradamente, como extensões, suportes do Partido Democrata e da esquerda norte-americana, nenhum é mais antigo, fulcral e preponderante do que o New York Times. E não é só no âmbito doméstico que a sua má fama começou a ser construída cedo: nos anos 30 o famigerado Walter Duranty visitou a União Soviética e de lá enviou para publicação no NYT uma série de reportagens em que elogiava a acção de Josef Stalin e do Partido Comunista, ignorando as atrocidades cometidas ou permitidas por aqueles, em especial os julgamentos e fuzilamentos sumários e a grande fome na Ucrânia.       
Vale tudo para a denominada «Grey Lady» no apoio e na defesa das causas e das pessoas em que acredita. Exemplo mais recente – e ridículo – disso é o «artigo de investigação» publicado em 28 de Dezembro último e escrito por David D. Kirkpatrick sobre o atentado ao consulado de Benghazi, na Líbia, em 11 de Janeiro de 2012; entre as suas «conclusões», estão as de que o ataque foi motivado por um vídeo «anti-Islão» (excerto de um filme, ou pequeno filme) colocado no YouTube, e que aquele foi conduzido por uma organização sem ligação à Al-Qaeda – asserções anteriormente desmentidas por entidades como o Pentágono e por indivíduos como Gregory Hicks, Nº 2 do embaixador Christopher Stevens (uma das quatro vítimas mortais) à data dos acontecimentos. Tratou-se de um trabalho tão mau que até algumas fontes do Washington Post na actual administração duvida(ra)m dele! A intenção desta paródia de um verdadeiro jornalismo foi evidente para todos: (tentar) desculpabilizar, inocentar, Hillary Clinton de quaisquer responsabilidades – que as teve, e grandes, e graves – do que aconteceu na Líbia, e, assim, (tentar) remover um desagradável obstáculo na sua mais que provável «corrida» à presidência dos EUA em 2016. No que, evidentemente, não terá qualquer sucesso – no «apagamento» do caso, claro, porque quatro cadáveres não deverão ser impeditivos de muitos (levianos, supérfluos) democratas votarem, mesmo assim, em Hillary…
… Entre os quais estará, decerto, Thomas Friedman, um dos mais (tristemente) conhecidos colunistas do jornal, e para quem Benghazi não é, não foi, um escândalo, e os republicanos estão ao nível dos membros do Hezbollah. Outros «operativos opinativos» de má fama do New York Times são Paul Krugman e Maureen Dowd, que, ocasionalmente, parecem concertar-se para, na mesma edição, entrarem em histeria colectiva. Enfim, uma «confraria confrangedora» onde sem dúvida se integrará muito bem uma das mais recentes «aquisições» do jornal, o egípcio Alaa Al-Aswany, notório por ser adepto de teorias da conspiração anti-israelitas. Sem esquecer os editoriais (não assinados) do NYT, incessantes exercícios de humor: num dos mais recentes assegurava-se que Barack Obama não se havia exprimido bemmisspoke») ao repetir, dezenas de vezes, que com a implementação do «ObamaCare» quem gostasse do seu seguro de saúde poderia mantê-lo; um conceito que foi retomado e «reformulado» posteriormente, agora numa «notícia», ao classificar-se que tais garantias por parte do presidente – que viriam a revelar-se infundadas – não eram mais do que «promessas incorrectas». O contorcionismo que certas pessoas fazem para não utilizarem a palavra «mentira(s)»…
Na verdade, as secções informativas do New York Times não são necessariamente melhores do que as de opinião: na sua redacção há quem tenha dificuldade em situar num mapa o Dakota do Norte e o Dakota do Sul (algo que não costuma acontecer em qualquer jornal escolar), quem duvide da existência do denominado «knockout game» enquanto tendência (mas não são os únicos a fazê-lo) e quem se recuse a renunciar ao conceito - falacioso, fraudulento - de «aquecimento global» apesar de recordes negativos de temperatura, de décadas e até de um século, estarem a ser batidos nos EUA neste Inverno (idem) – tal como outros media, o NYT também não informou os seus leitores sobre o que iam fazer os cientistas resgatados há cerca de duas semanas de um navio preso nos gelos da Antárctida (onde, recorde-se, agora é Verão)… O facciosismo é tanto que o jornal nem costuma recensear, e, logo, divulgar, os livros de autores conservadores que costumam liderar a sua tabela de vendas de não-ficção!
Seja pela qualidade que diminui (e que, efectivamente, nunca foi muita) e/ou pela quantidade (receitas) que não aumenta, o certo é que são cada vez mais aqueles que saem do Nº 620 da Oitava Avenida. Um dos que ainda estão lá, Dean Baquet, confessou, numa conferência realizada na Universidade Estatal da Pensilvânia em Outubro, que «o meu único medo é que o ofício de testemunhar e de reportar a verdade venha a morrer». No jornal dele isso já aconteceu há bastante tempo… A todos os ignorantes, iludidos, ingénuos, que ainda tomam o NYT como uma (boa) referência de jornalismo fica o conselho: deixem de o fazer. Bob Dylan cantou em 1964 «the times they are a-changin’». Porém, o New York Times não muda. Correcção: mudará quando for fechado. O que já esteve mais longe de acontecer.
(Adenda – Até Dianne Feinstein rejeita a investigação do New York Times sobre Benghazi!)
(Segunda adenda – O carácter, bom ou mau (ou a falta dele), de uma instituição também é consequência do carácter das pessoas que nela têm influência. Bill Keller, que foi editor executivo do New York Times entre 2003 e 2011 (entrou para o jornal em 1984), recentemente escreveu um artigo em que desvaloriza, e até mesmo despreza, uma mulher que sofre de cancro – basicamente, repreendeu-a por se queixar publicamente das deficiências no tratamento que recebe; não é de crer que Keller seja republicano, porque os membros do GOP é que são frequentemente acusados de fazer «guerra às mulheres» e de querer que os doentes «morram depressa». Entretanto, no NYT continua a ter-se grande dificuldade em escrever-se «bebé» para referir uma criança ainda no ventre da mãe – preferem a palavra «feto», mesmo quando este está quase no sexto mês de gestação.)
(Terceira adenda – O New York Times celebrou efusivamente, incluindo um destaque de primeira página, os 50 anos de Michelle Obama; quando Laura Bush fez 60 o tratamento dado pelo jornal foi um «pouco» diferente… mas, mais uma vez, é verdade que o NYT não foi caso único na «graxa» dada à actual primeira-dama. Entretanto, entre as pessoas preferidas do «fishwrap of record» está também Carter Camp, criminoso condenado, cadastrado, que, por ser um «líder índio americano», mereceu uma elogiosa elegia aquando do seu falecimento na semana passada; em certas redacções qualquer radical que recorra à violência, desde que pelas «causas certas», merece habitualmente uma cobertura favorável, póstuma ou não - lembre-se o caso dos «ocupas» de Wall Street.)      

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