terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Más saídas

Há quem, em Portugal e não só, tenha exultado com a ideia (duvidosa) de que não se tinha confirmado a «morte política» de Barack Obama. Mais: que ele pôde «voltar a sorrir» e que a sua administração «termina 2014 em grande»…
… Principalmente porque decidiu restabelecer as relações diplomáticas com Cuba, e, logo, terminar o embargo económico àquele país que já dura(va) há mais de 50 anos e reconhecer o regime comunista dos irmãos Fidel e Raul Castro. Assim se deu um novo significado, e uma nova compreensão, ao aperto de mão entre o Nº 44 e o irmão mais novo do «ditador comandante» no funeral de Nelson Mandela no ano passado – já então havia contactos, negociações, entre Washington e Havana, que agora estão concluídos, prevendo-se a abertura de uma embaixada, e a consequente nomeação de um embaixador, na capital cubana… a ver vamos se o novo Senado, controlado pelo GOP, concordará, o que é pouco provável. Ao mesmo tempo procedeu-se à troca de um trabalhador humanitário norte-americano por três espiões cubanos condenados por quatro homicídios.
Provavelmente a algumas pessoas não se lhes afigura (ou preferem não assumir) que, à custa da «ressurreição» do Sr. Hussein e da sua «boa disposição», os Estados Unidos da América estão a definhar, e quase que parecem moribundos, no que se refere ao seu poder e prestígio mundiais. A alegada «victória» do presidente ao reabilitar o Estado pária das Caraíbas, rematada com um pedido de desculpa ao líder daquele, criticada tanto pelos republicanos Marco Rubio e Ted Cruz como pelo democrata Bob Menendez (três senadores de ascendência cubana), é uma derrota para o país; e, infelizmente, não foi a única neste (final de) ano.  
Outro desaire auto-infligido, como que um grande «tiro no (enorme) pé» norte-americano, foi a conclusão e divulgação do relatório (alegadamente) do Senado relativo às (alegadas) torturas cometidas pela Agência Central de Inteligência sobre suspeitos (e culpados) de terrorismo depois de 11 de Setembro de 2001. Convém denunciar e corrigir alguns erros que também em Portugal, como não podia deixar de ser, foram espalhados sobre este assunto: o relatório é apenas dos democratas do Senado – nenhum republicano participou na sua elaboração – que nele gastaram cerca de 40 milhões de dólares sem recolherem um único depoimento de um único operacional da CIA indicado – e culpabilizado – naquele texto; o actual e todos os anteriores directores da agência (sim, incluindo os nomeados por presidentes «azuis») o refutam; e, enfim, o documento representa uma enorme «birra» de despeito, de vingança, dos «burros» contra os eleitores que lhes retiraram a maioria na câmara alta do Congresso – é um acto de «terra queimada», uma demonstração de «depois de mim, o dilúvio» por parte de políticos que não têm maturidade nem (sentido de) responsabilidade suficientes para colocarem os superiores interesses da nação acima dos seus ego(ísmo)s. É compreensível que analistas e operacionais se sintam traídos por este (infame) «relatório», quanto mais não seja porque há 13 anos ouviram apelos e receberam instruções – incluindo de democratas como Dianne Feinstein, que agora surge hipocritamente como modelo de virtudes – para fazerem tudo o que fosse preciso de modo a evitar a ocorrência de novos atentados. Além de que muitos dos que tanto condenam as «torturas» – que, repete-se, não causaram qualquer morte – se mantêm silenciosos, ou aplaudem (!) os ataques com drones ordenados por Barack Obama, que, esses sim, provocaram várias vítimas mortais, incluindo inocentes; nem, obviamente, condenam Bill Clinton, em cuja presidência foram definidos e autorizados pela primeira vez os métodos que proporcionariam, indubitavelmente, resultados. O maior dos quais foi a localização e execução de Osama Bin Laden, cujo mérito Barack Obama não hesitou em reclamar para si…
… E que, hoje, tenta desavergonhadamente ocultar afirmando que a actuação da CIA «danificou a posição («standing») da América no Mundo». Na verdade, os maiores danos são causados, precisamente, pelo uso e abuso de drones, e por maus «negócios» como a libertação de quatro chefes talibãs em troca de um desertor como Bowe Bergdahl. Não seria surpreendente que algum – ou dois, ou três, ou todos – daquele quarteto de terroristas estivesse envolvido no recente ataque a uma escola no Paquistão que custou a vida a mais de 100 crianças e jovens. No entanto, é com gente desta que Barack Obama entende que se justifica encetar negociações; e, agora que os EUA vão retirar do Afeganistão (quase) à semelhança do que fizeram no Iraque, é de esperar que as vítimas venham a aumentar. Porque apesar de o Nº 44 dizer que a guerra «terminou» isso não significa que tal seja verdade… porque os inimigos não fizeram qualquer declaração semelhante. Entretanto, a Casa Branca não nega que considera a hipótese de decretar sanções a Israel… ao mesmo tempo que ameaça vetar sanções ao Irão e pondera a hipótese de reabrir a embaixada em Teerão. O regime dos «ai-a-tolas», um «modelo» de respeito dos direitos humanos, responde à boa vontade e generosidade «obamistas» com o descaramento de criticar o «racismo» e o «tratamento inumano» alegadamente evidentes nos casos de Michael Brown e de Eric Garner! Não espanta que até a porta-voz do Departamento de Estado confesse que os «argumentos» que tem de repetir são ridículos.  
Os desaires lá (para) fora acontecem simultaneamente a outros cá dentro. Barack Obama já tinha a sua presidência associada à primeira descida da notação financeira do país – de «AAA» para «AA+», em 2011; agora, três anos depois, aquela fica também associada à descida dos EUA do lugar de primeira potência (produtora) económica mundial; tal posição é agora ocupada pela China, que sem dúvida aproveitará o acordo para a redução de gases de efeitos de estufa assinado com Washington para reforçar ainda mais essa liderança – os ingénuos, os ignorantes que celebram este suposto «entendimento» entre os dois maiores poluidores do planeta como um importante passo para a diminuição do (fictício) «aquecimento global» não conseguem ou não querem perceber que Pequim pouco ou nada limitará a sua capacidade industrial, enquanto do outro lado do Pacífico haverá – pelo menos até Janeiro de 2017 – quem esteja disponível para prejudicar as suas próprias empresas em prol de uma utopia. Só esta «despromoção» para a «vice-liderança planetária» seria suficiente para desmentir, e destruir, todas as atoardas de que a economia norte-americana tem vindo a melhorar sob a condução do Sr. Hussein; porém, e infelizmente, há mais (indicadores desfavoráveis): a dívida pública superou os 18 triliões de dólares; a taxa de desemprego não é tão boa como parece, e não só porque o seu cálculo e apresentação levantam muitas dúvidas – é, principalmente, porque a participação da força laboral (isto é, o número de pessoas que activamente procuram trabalho) há 36 anos que não apresentava um valor tão reduzido… e a situação tenderá a piorar com o (previsível) cada vez maior afluxo de imigrantes (e futuros votantes) ilegais, incentivado e despenalizado por Obama e pelos democratas.
Tudo isto somado, soa ainda mais anedótica a afirmação – e a crença – de Barack Obama de que «o ressurgimento da América é real». Compreensível em alguém que não está consciente – por não poder ou por não querer – da realidade que o rodeia para lá das grades – deficientemente defendidas, pelo que se viu este ano – do Nª 1600 da Avenida da Pensilvânia. Compreensível em alguém que admite que passa muitas manhãs a ver desporto na televisão, concretamente através do canal ESPN. Em alguém que está disponível para «substituir» Stephen Colbert frente às câmaras. Em alguém que não sabe citar a Bíblia e o que nela está escrito (previsível em quem criticou aqueles que se «agarram» a ela). Que recebe pela segunda vez consecutiva o «prémio» do Washington Post para a «maior mentira do ano».    
Não se deve, pois, sobrestimar as capacidades e os poderes de Barack Obama e dos seus camaradas: a Casa Branca, e a própria cidade de Washington, capital onde se situam as sedes de importantes instituições governamentais federais ainda comandadas por democratas, formam como que uma «ilha» no meio de um «mar» de territórios republicanos – Estados e respectivos representantes e senadores, governadores, assembleias legislativas. O Sr. Hussein e os seus mais fiéis capangas estão cercados, isolados; a sua incompetência e a sua irresponsabilidade fazem com que os EUA tenham más saídas de 2014, e o haver boas entradas em 2015 dependerá muito do que o GOP quiser e conseguir fazer quando, a partir do próximo dia 6 de Janeiro, dominar o Capitólio. Nesse sentido, a capitulação de John Boehner ao assegurar a aprovação de um orçamento que inclui o financiamento do «ObamaCare» e da amnistia de imigrantes não representou um bom augúrio… e constituiu, sim, uma prova de que mesmo entre os «elefantes» ainda há muito por esclarecer e endireitar.

2 comentários:

Neo disse...

O reatamento das relações com Cuba, imagino que terá a ver com a subida de tensão nas relações com a Russia e pretende evitar que eles reabilitem a sua influência na ilha. Ficariam de novo com um problema à porta.
De qualquer modo, o poder dos Castro acabará por implodir muito brevemente. cairá de podre a breve trecho.

Um bom ano de 2015.

Cumprimentos

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Um bom ano de 2015 também para si, «Neo»...

... Mas, ao contrário de si, não acredito que «o poder dos Castro acabará por implodir muito brevemente, cairá de podre a breve trecho»... porque, ao restabelecerem relações políticas e económicas com Cuba, os EUA proporcionarão ao regime de Havana, se este aprender bem a «lição chinesa», a oportunidade de aproveitarem o influxo de investimentos para se fortalecer.