quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

«Obamadorismos» (Parte 5)

(Três adendas no final deste texto.)
O discurso do «Estado da União» proferido por Barack Obama perante os membros das duas câmaras do Congresso (Casa e Senado) no passado dia 20 de Janeiro (data que assinalou também o sexto aniversário da sua primeira tomada de posse) foi… aquilo que se esperava: mais uma demonstração de arrogância, facciosismo, imaturidade; mais um anúncio de medidas, de promessas, que sabe – e, se não sabe, deveria saber – que não pode cumprir, ou porque são irrealizáveis ou porque os republicanos – que ele parece ainda não ter compreendido que, desde Novembro último, estão em maioria no Capitólio e no país – não concordam com elas. Como o aumento de impostos, não para ajudar a classe média – que já está também bastante pressionada – mas sim para dar mais «borlas» à classe baixa (especialmente afro-americana) e aos imigrantes ilegais que ele quer legalizar. E ainda, claro, para financiar o seu projecto de «universidade grátis» que, obviamente, outros terão de pagar… em suma, foi mais um exercício de ignorar a realidade.
As… «imprecisões» - para não lhe chamar mentiras – no discurso do Sr. Hussein foram assinaladas não só na Fox News mas também na Associated Press. Ele, mais uma vez, apelou à civilidade, e, mais uma vez, a seguir provocou os republicanos. Ele elogiou o bi-partidarismo mas terá, talvez, batido um recorde em número de ameaças de veto de legislação que não lhe agradar e que lhe vá parar às mãos vinda do Congresso – Wolf Blitzer, da CNN, também reparou nisso. Ele, incrivelmente, hipocritamente, insurgiu-se contra o excesso de angariações de fundos, algo que tem feito intensivamente desde que é presidente… e, após o final do discurso, o Partido Democrata enviou mensagens em seu nome pedindo dinheiro. Até se citou a ele próprio! Da Fortune, Nina Easton disse que o discurso foi como que um «dejá vu», e que Barack Obama «não evoluiu». Ainda da Fox News, John Stossel fez, com humor, a sua interpretação, «tradução», «descodificação» do discurso… e talvez não se tenha enganado muito.
É assim tão surpreendente que a própria Ruth Bader Ginsburg, que sem dúvida tem simpatia pelo presidente e pelas suas posições, tenha acabado por adormecer durante o discurso? Até os liberais (pelo menos alguns) têm limites para tolerar a demagogia e a monotonia. Outros exemplos vêm da NBC, onde Andrea Mitchell admitiu que «não está perto da realidade» a projecção que o presidente faz do sucesso na luta contra o terrorismo em geral e contra o ISIS em particular, e a Richard Engel soou que «o presidente estava a delinear um Mundo que ele desejaria em que todos nós estivéssemos a viver, mas que é muito diferente» do Mundo real.
O mais grave é que essa ilusória mundividência é seguida na governação, e nos actos concretos que a constituem, tanto ao nível interno como ao nível externo. Neste, continua a ressaltar, e de uma forma cada vez mais escandalosa, a dualidade de critérios com que a administração trata o Irão (um inimigo) e Israel (um aliado). Os democratas têm o atrevimento de criticar como sendo uma «quebra de protocolo», ou pior, que John Boehner tenha convidado Benjamin Netanyahu a discursar perante o Congresso (no dia 3 de Março) sem informar previamente a Casa Branca… «esquecendo-se», talvez, de todas as regras de decoro que Barack Obama já desrespeitou no relacionamento com os representantes e os senadores, em especial quando procedeu a acções executivas na imigração. Ao mesmo tempo, no Nº 1600 da Avenida da Pensilvânia insiste-se numa política de «paninhos quentes» com Teerão, que o democrata Bob Menendez, que já se havia distinguido na crítica ao Sr. Hussein por causa da abertura a Cuba, veio também vituperar uma e outra vez; também não ajuda que existam suspeitas de que tenha sido a administração norte-americana a revelar um relatório secreto da Mossad sobre, precisamente, as negociações com os iranianos.
Entretanto, Tulsi Gabbard, representante democrata do… Havai, é mais uma voz a criticar a renitência do Nº 44 e da sua equipa em utilizar a expressão «extremismo (ou terrorismo) islâmico». Extremismo esse que também é practicado, em outros moldes, na Arábia Saudita, onde faleceu recentemente o seu rei, Abdullah. Barack Obama, que, recorde-se, já lhe fizera uma vénia (proibida, esta sim, pelo protocolo diplomático norte-americano), achou que se justificava deslocar-se àquele país para prestar homenagem ao monarca saudita, que, segundo Richard Engel, desprezava o actual presidente norte-americano – se não por este se ter curvado (e sujeitado) perante ele, de certeza por causa das atitudes dos EUA na «Primavera Árabe», no derrube de Hosni Mubarak e na «reabilitação» internacional do Irão. Tal alteração nos planos não achou o Sr. Hussein que se justificava noutras ocasiões (como a da morte de Margaret Thatcher ou, mais recentemente, a da marcha em Paris contra o terrorismo), mas desta vez sim… pelo que ele terminou mais cedo a visita oficial à Índia – onde muitos se ofenderam por ele mascar pastilha elástica em público – e rumou a Riad onde se recusou a dar uma resposta concreta sobre (e muito menos a condenar) o caso do blogger Raif Badawi, condenado a receber 1000 chicotadas por, supostamente, ter ofendido o Islão. Enquanto isso, em Washington, no Departamento de Defesa acharam que seria uma boa ideia instituir um prémio de ensaio literário em honra de Abdullah, em cujo reinado as execuções por decapitação aumentaram para o quádruplo, e continuam com o seu sucessor. Porém, é verdade que no Irão, cujos dirigentes merecem o benefício da dúvida por parte de Obama, o ritmo de matança é ainda maior.
Ao nível interno, sucedem-se os relatos de (mais) problemas e mesmo de (mais) ilegalidades relacionados com o «ObamaCare»… que só é um «grande sucesso» de Barack Obama ou para os fãs mais irrazoáveis ou para os ignorantes mais impressionáveis. Um relatório do Gabinete de Orçamento do Congresso concluiu que o denominado «Affordable Care Act» está mais próximo de ser (o que não é uma surpresa)… unaffordable, pois custa(rá) a cada norte-americano, e em média, cerca de 50 mil dólares… e cerca de 30 milhões continuarão sem ter seguro de saúde. Os seus (ir)responsáveis continuam a divulgar números errados (ou falsificados) de subscrições, e, pior, continuam a recorrer aos serviços da mesma empresa que concebeu e implementou, desastrosamente, o sítio healthcare.gov. Para cúmulo, o (ainda deficiente) sistema tem transmitido informação médica confidencial de milhares – ou milhões – de pessoas a empresas para fins publicitários, obviamente sem o conhecimento nem o consentimento daquelas.
Pode-se e deve-se perguntar como é que tantos «amadorismos», de Barack Obama e dos seus comparsas, se repetem e se multiplicam. A resposta está em que eles são constantemente apoiados, nas suas disputas eleitorais, por doadores que estão em maioria (superam os dos republicanos) na lista dos 100 maiores. Há quem tenha uma noção diferente de «competência», e actue (com a carteira) de acordo com isso.
(Adenda – O problema com os «Obamadorismos» é que nunca cessam de acontecer e afectam practicamente todas as áreas da vida política e pública dos EUA. Internamente, e como era previsível, é só aparente a preocupação com a classe média por parte da administração; e esta discrimina os Estados consoante sejam «encarnados» ou «azuis» (com estes, obviamente, a serem beneficiados). Externamente, os talibãs, que continuam a matar às dezenas e às centenas de cada vez, em competição com os seus «camaradas» do Boko Haram e do ISIS, só têm a agradecer à Casa Branca: esta não os considera um «grupo terrorista» mas sim uma «insurgência armada», e um dos cinco que foram trocados por Bowe Bergdahl terá voltado ao «activo». Como salienta Charles Krauthammer, a situação já está para além da paródia.)    
(Segunda adenda – Se há aspecto em que Barack Obama e os seus subordinados se revelam profissionais – ou menos amadores – é na manutenção e na expansão do culto da personalidade devotado ao Nº 44. Culto que é, obviamente, sustentado em primeiro lugar pelo egotismo e pelo narcisismo do Sr. Hussein: aquando da sua recente visita à Índia proferiu um discurso em que se referiu a si próprio mais de 100 vezes em pouco mais de meia hora! E, apesar de tanto gostar de ficar bem em (boas) fotografias, é de lamentar que nem isso tenha sido um incentivo suficiente para ir a Auschwitz celebrar os 70 anos da libertação daquele campo de concentração. Não se associou à condenação dos nazis… e continua a desvalorizar a ameaça daqueles que são autênticos neonazis. Ele considera que se deve parar de «”sobre-inflacionar” a importância dos grupos terroristas» porque eles não são uma «ameaça existencial» para os EUA – na verdade, muitas pessoas deixaram de… existir a 11 de Setembro de 2001, e depois disso, devido às acções de uns quantos que, ainda segundo ele, têm uma «interpretação medieval» do Islão que é rejeitada por «99,9% dos muçulmanos». Porém, é um facto que tal percentagem é bastante inferior. Enfim, é prejudicial, e perigoso, quando alguém se acha, erradamente, o «tipo mais esperto na sala», mania que, na opinião de Robert Gates, nenhum dos melhores presidentes tinha. E ele sabe do que (de quem) fala. BHO é um amador que ainda vai causar muita… dor.)      
(Terceira adenda – Segundo o director do FBI existem pessoas suspeitas de terem ligações ao ISIS em 49 Estados; a excepção é o Alaska – talvez com medo de Sarah Palin e da sua família, e das armas (e da pontaria) que eles têm. James Comey contradiz, assim, Barack Obama, que assegurou que o ISIS não representa(va) uma «ameaça existencial» para o país (irá perguntar a Comey qual é a situação nos restantes «sete» Estados?) Afinal representa, e não só para os EUA: os torturadores e assassinos da bandeira negra terão alegadamente «representantes» em outros 12 países. Entretanto, o Sr. Hussein, depois de invocar os supostos crimes cometidos em nome de Cristo, incluindo referência às Cruzadas, reuniu-se na Casa Branca, à porta fechada, com líderes americano-muçulmanos, que se queixaram dos «preconceitos» e da «perseguição» de que são vítimas. Decididamente, a distância entre amadorismo (ou seja, incompetência) e traição já foi maior.)     

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Ano Sete

Hoje assinala(m)-se o(s) início(s) do(s) sétimo ano da presidência de Barack Obama (e do sétimo ano da existência do Obamatório). 2015 começou, pode dizer-se, practicamente da mesma maneira que 2014 terminou, ou seja: com uma demonstração de fraqueza e de incompetência por parte da actual administração que prejudica os superiores interesses dos Estados Unidos da América.
Antes foi o restabelecimento oficial de contactos, negociações e até de relações diplomáticas com Cuba, criticado por políticos com ligações àquela ilha, da esquerda (Bob Menendez) à direita (Marco Rubio e Ted Cruz). Agora, foi a ausência do Sr. Hussein, de Joe Biden ou de outro alto dignatário norte-americano na marcha contra o terrorismo em Paris a 11 de Janeiro, criticada com ainda mais unanimidade e veemência através de todo o espectro político, e até na comunicação social. O que é mais preocupante nem terão sido os motivos (ou a inexistência deles, pelo menos de válidos e relevantes) apontados para o Air Force One não ter atravessado o Atlântico – que foram desde a preferência por ficar em casa (branca) a ver jogos de futebol (americano) na televisão a não querer ser apenas mais um entre os quase 50 chefes de Estado e de governo de todo o Mundo que desfilaram nas ruas da capital francesa; sim, estava lá Eric Holder, mas o (ainda) procurador-geral seria um mau representante não tanto por estar demissionário mas sim por ter um «currículo» - ou «cadastro» - de defensor de terroristas (e de ter enchido o Departamento de Justiça com mais defensores de terroristas) e de perseguidor de jornalistas.
O que é, sim, mais preocupante é a continuada, reiterada renitência da administração e dos seus porta-vozes em classificar actos como os que ocorreram a 7 de Janeiro em Paris – ou, para só mencionar os anteriores em cidades ocidentais, o de Dezembro em Sidney (Austrália) e o de Outubro em Otava (Canadá) – como de «terrorismo (ou extremismo) islâmico». A parte do «islâmico» fica invariavelmente de fora. Algo que, em contraste, François Hollande e Manuel Valls, respectivamente presidente e primeiro-ministro de França, e socialistas, não fazem, não hesitando em chamar os «bois pelos (verdadeiros) nomes»! E, entretanto, Obama vai libertando mais prisioneiros de Guantánamo…    
Ao contrário do que dizem e escrevem – e, aparentemente, acreditam – os admiradores e adoradores de Barack Obama, a imagem dos EUA no Mundo não melhorou com a chegada dele à presidência, e «esta falta de comparência» em Paris é tão só o mais recente (de uma longa lista) de «contributos» para a degradação dessa imagem. E, obviamente, não é só no plano externo que o falhanço do Nº 44 é evidente. Não, o «ObamaCare» não foi, não é, o seu «maior feito»… no sentido positivo; o ACA nunca deixou de ser – todas as sondagens o demonstraram, e continuam a demonstrar – impopular, negativo, para a maioria da população, e a victória do Partido Republicano nas midterms de Novembro último constituiu a conformação, a ratificação, dessa opinião. Do mesmo modo, a legalização de imigrantes ilegais tem a oposição da maioria dos norte-americanos, e é outra questão que serviu para o GOP conquistar o Senado (e manter a Casa, onde reforçou o seu domínio) no ano passado. E, claro, não se tem verificado uma autêntica recuperação económica.
Após seis anos de propaganda esta surge cada vez menos eficaz, e não resiste aos factos… e aos argumentos baseados em factos. Dana Milbank (que não é propriamente um extremista de direita) alude à «enervante conversa alegre» de Barack Obama. Michael Goodwin acredita que «o navio de Obama está a afundar» e que, entretanto, ele «aponta sempre o dedo da culpa a outra pessoa». Andrew Napolitano denuncia as «arrepiantes tentativas» da Casa Branca de «silenciar os seus detractores», e pergunta: «é o presidente incompetente ou fora-da-lei?» Outro Andrew, o Klavan, põe uma pergunta… «ligeiramente» diferente: «é Obama apenas um pacóvio infeliz?» Se sim, tal talvez aconteça por ele ou «não querer saber» ou por ser «distraído». E, com efeito, segundo Ben Shapiro, Obama parece «nunca ter um plano», regularmente queixa-se da sua vida enquanto presidente e a sua «doutrina» é a de «parecer que se importa até não ser preciso». Ou, como refere Keith Naughton, a «política» do Sr. Hussein – para a imigração, pelo menos – é «identificar o problema e nada fazer». Já para Cal Thomas, a única «carta» que aparentemente está no «baralho» do Nº 44 é a da raça, do racismo. Isto internamente, porque, externamente, a tendência é, segundo (o democrata) Douglas E. Schoen, o abandono de aliados, o que «não é uma estratégia mas sim um desastre». Pelo que se pode perguntar, como o fez Neil Cavuto: é Obama «leal e racional»? Não, e também porque, ao contrário do seu antecessor (e democrata) Harry Truman, e como salienta Josh Kraushaar, BHO não assume inequivocamente as suas responsabilidades
… A primeira das quais é certificar-se de que se faz tudo o que for possível para garantir a segurança da nação. Porém, estará essa tarefa a ser cumprida quando os EUA estão a diminuir o seu arsenal nuclear ao mesmo tempo que a China aumenta o dela? Quando a actual administração promove o Islão? Bob Woodward concorda: o Mundo está menos seguro do que há um ano.     

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A mais estúpida de 2014

Informo desde já que Katrina vanden Heuvel não repetiu em 2014 o seu «triunfo» de 2013 relativo à autoria da afirmação (declaração, expressão, frase) mais estúpida, mais ofensiva, mais ridícula do ano (passado) nos Estados Unidos da América… 
… E a escolha da «grande» vencedora não foi facilitada – muito pelo contrário – pelo facto de 2014 ter sido um ano de eleições e, ainda por cima, um ano em que aumentaram e se agravaram os casos, os escândalos e as incompetências relacionadas com Barack Obama e a sua administração, tudo factores que propiciar(i)am o multiplicar de «bocas» - ditas ou escritas – bombásticas, controversas e imbecis… todas elas, evidentemente, proferidas por democratas.  E que, feita a recolha das maiores ou «melhores» (neste caso, as piores), podem ser agrupadas em diferentes – mas sempre risíveis – categorias, por exemplo e mais especificamente…
… A de «republicanos e conservadores são tão maus ou piores do que…», com destaques para: «Eles (Tea Party) não acreditam que a União ganhou (a guerra civil)», Charles Rangel; «O ódio nunca, nunca desaparece… o fanatismo daqueles que querem limitar o direito (aplicar leis de identificação) de voto não pode ser abafado pela razão», Joe Biden; «A civilização como a conhecemos hoje estará em perigo se os republicanos ganharem o Senado», Nancy Pelosi; «As acções dos republicanos no Congresso são piores do que as do Estado Islâmico», Jesse Smith; «Isto é o melhor que o GOP tem para oferecer… intimidação, ameaças e escândalos», Debbie Wasserman Schultz. Aliás, a (ainda) líder do Comité Nacional Democrata e, recorde-se, «a mais estúpida de 2011», quase, quase teve direito a uma categoria (ou falta dela) só para si, tais são os dislates que continua a proferir regularmente: no ano passado distinguiu-se desfavoravelmente também por concordar que «é verdade» que os republicanos metem mais medo do que o ébola, e que «é insensível e é errado» aprovar leis que criminalizam a utilização de pílulas abortivas sem o conhecimento e o consentimento da mulher que está grávida.    
Sim, todas estas frases, (in)dignas representantes, e até expoentes, do pior que a «progressista» esquerda norte-americana tem para oferecer, são, eram, fortes candidatas ao triunfo. Porém, nenhuma delas o conseguiu: a vencedora veio da (habitualmente) mais caricata das categorias… a «em vez da realidade prefiro a fantasia». Terá sido Jim Moran com «os membros do Congresso são mal pagos»? Não. Terá sido David Ignatius com «(Barack Obama) tem sido talvez o presidente menos político da história moderna dos Estados Unidos»? Também não. Terá sido Chuck Schumer com «o público sabe no seu íntimo que um governo forte e activo é a única maneira de reverter o declínio da classe média e ajudar a reviver o Sonho Americano»? Esteve quase… mas não. A frase mais estúpida de 2014 é…
«O Sr. Obama está tendo um ano seriamente bom… de facto, há uma hipótese muito boa de que 2014 ficará nos livros de registos como um daqueles anos em que a América virou decididamente na direcção certa»… e é de Paul Krugman! Aqui a estupidez é espantosa a dois níveis: primeiro, porque quando foi escrita (em Junho) já começavam a acumular-se os desaires internos e externos do Nº 44; segundo, porque dar um palpite destes a meio do ano e quando ainda faltava realizarem-se (importantes e decisivas) eleições intercalares é um daqueles actos à partida irresponsáveis e ultimamente falhados que dão razão a John Kenneth Galbraith, que afirmou que as previsões económicas (ou de economistas) contribuem para a credibilidade das previsões astrológicas. Enfim, é mais uma prova – como se ela fosse necessária – de que o colunista do New York Times é um dos mais (ou talvez o mais) sobrestimados dos «pensadores» liberais contemporâneos; é um insulto associar a designação «Nobel» a esta falácia intelectual ambulante… que em Portugal conta, pelo menos, com um fã particularmente dedicado           

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

… E o futuro não lhes pertenceu

(Uma adenda no final deste texto.)
As palavras têm significados, têm causas, e podem ter consequências. Em 2012, pouco antes de ser reeleito em Novembro daquele ano, e depois de ter concordado com (e eventualmente causado) a prisão de um cineasta que realizou um (obscuro) filme que alegadamente ofendia os muçulmanos e que, segundo a actual administração norte-americana – pelas vozes, nomeadamente, de Hillary Clinton e de Susan Rice – teria causado o ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia em que morreram quatro compatriotas, incluindo o embaixador naquele país, Barack Obama declarou durante um discurso na assembleia geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, cenário (não exclusivo) dos atentados de 11 de Setembro de 2001: «O futuro não deve pertencer àqueles que insultam o profeta do Islão
No passado dia 7 de Janeiro, em Paris, terroristas islâmicos levaram aquelas palavras aos actos ao atacarem a sede do jornal Charlie Hebdo e ao assassinarem dez membros da redacção do jornal (e dois polícias então no local) que, efectivamente, e repetidamente, haviam insultado Maomé, Alá, o Islão… e também Jesus e o Cristianismo, Maomé e o Judaísmo, o Deus destas duas religiões, e muitos, muito mais indivíduos e instituições; para eles deixou de haver futuro, este deixou de lhes pertencer. A liberdade de expressão, valor fundamental das sociedades ocidentais democráticas e desenvolvidas, é isso mesmo: o direito – e até o dever – de, se for isso que se quiser, insultar tudo e todos. Bill Maher – ironicamente, um grande apoiante de Barack Obama – sabe isso, entende isso. E tem razão ao dizer que não é suficiente para os muçulmanos «moderados» condenarem este ataque na França em particular e todos os outros cometidos pelos seus irmãos «radicais» em todo o Mundo: é necessário que eles aceitem, e reconheçam, que a sua religião pode ser satirizada sem haver o perigo de represálias. E, já agora, que reconheçam também que as mulheres são pessoas com igual dignidade e regalias, que os apóstatas não devem ser executados, que os adúlteros não devem ser apedrejados, que os homossexuais não devem ser enforcados…
Neste âmbito, qualquer manifestação de pesar, qualquer comunicado de condenação, por parte do Sr. Hussein e dos seus comparsas não deve, pois, ser tomado (inteiramente) a sério. Por mais do que uma vez eles mostraram dar mais importância ao apaziguamento de muçulmanos do que à defesa da liberdade de expressão. Aliás, também já em 2012 a Casa Branca, pela «voz do dono» Jay Carney, havia criticado o Charlie Hebdo! Mais: a presidência de Barack Obama tem sido apontada – por jornalistas da esquerda à direita – como a mais hostil à comunicação social na história contemporânea dos EUA, e não faltam os exemplos (ameaças, escutas, processos judiciais, restrições de acesso) disso mesmo. Porém, muito dos detentores do «quarto poder» do outro lado do Atlântico provaram que não merecem muita solidariedade porque demonstraram novamente, sem surpresa, a sua cobardia e a sua hipocrisia, agora perante o massacre de colegas seus ocorrido em França: não mostrando as caricaturas do Charlie Hebdo, dando mais importância a «represálias» imaginadas ou empoladas contra as comunidades muçulmanas, invocando supostas atrocidades equivalentes cometidas por cristãos… Além da Fox News, o Washington Post é (desta vez), nos média mais importantes, uma excepção à regra seguida pela ABC e pela NBC, pela MSNBC, pelo New York Times - uma e outra vez; e pela Associated Press e pela CNN, que não mostram imag(inaçõ)e(n)s de Maomé mas que mostram (e até vendem reproduções de) imagens de uma «obra artística» que consiste num crucifixo dentro de um recipiente com urina…
O atentado em França nem foi, no entanto, o mais mortífero ocorrido no dia 7: no Iémen cerca de 40 pessoas foram mortas e cerca de 60 foram feridas por outros terroristas muçulmanos – uma designação que, entre muitos outros no «eixo transatlântico» Washington-Bruxelas, Howard Dean se recusa a utilizar, apesar de eles invariavelmente gritarem «Alá é grande!» aquando dos ataques. Mas, sim, embora (muito) maus, eles são muçulmanos, e verdadeiros. Quase tão perigosa quanto a afirmação homicida de uns é a negação suicida de outros.   
(Adenda – Antes de, tal como o irmão, ter levado com uma bala na testa que infelizmente impediu uma punição mais lenta e dolorosa, Chérif Kouachi ainda conseguiu falar para um canal de televisão e revelou que atacaram o Charlie Hebdo por indicação da Al Qaeda. Então esta, segundo Barack Obama, não tinha sido destroçada, destruída, «decimada»? Não estavam os seus elementos «em fuga»? Pelos vistos estavam… para a Europa. Mais: os Kouachi receberam treino de armas no Iémen… o país em que o Nº 44 afirmara terem sido concluídas com sucesso operações antiterroristas. Considerando tudo isto, e ainda o facto de o Sr. Hussein ter vindo a libertar recente e regularmente terroristas de Guantánamo, até se compreende que ele tenha decidido não comparecer à grande marcha de 11 de Janeiro em Paris – ao contrário de outros líderes mundiais, como o primeiro-ministro israelita e o presidente palestiniano, que desfilaram lado a lado.)