terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A noite do(a)s estarolas

A cerimónia de entrega dos prémios – conhecidos como os Óscares – da Academia (norte-americana) das Artes e das Ciências Cinematográficas já foi conhecida, merecidamente, como a noite das estrelas. Nos últimos anos, ou talvez décadas, e cada vez mais, tem-se «progressivamente» transformado na noite do(a) estarolas. E a mais recente, ocorrida no passado domingo, confirmou-o, porque foi especialmente ridícula, patética, até ofensiva…
… E não só pela apresentação, pela actuação, de Neil Patrick Harris, que, tendo «culminado» aquela com uma breve aparição em cuecas, mais parecia estar numa gala da GLAAD ou da ILGA – e após Ellen DeGeneres ter simbolizado em 2014 a letra «L» (lésbica) e o ex«Doogie Howser» este ano a «G» (gay), é de esperar que em 2016 seja um «B» (bissexual) o/a «mestre de cerimónias» e em 2017 seja um «T» (transgénero). Não só pela cada vez maior irrelevância da cerimónia, por os prémios já serem previsíveis na sua grande maioria ou totalidade após a atribuição prévia de vários outros galardões, e por aqueles distinguirem preferencialmente filmes pouco vistos, pouco populares, com reduzidas receitas de bilheteira. Não só por o(a)s melhores profissionais e as melhores obras raramente serem premiadas ou até nomeadas. Não só por cada vez mais a «fórmula» mais seguida na tentativa de obtenção de troféus basear-se em histórias de doenças e/ou deficiências físicas e/ou mentais, como se comprovou novamente anteontem pelos triunfos de Eddy Redmayne e de Julianne Moore…   
A cerimónia do passado dia 22 de Fevereiro foi especialmente ridícula, patética, até ofensiva, também, e principalmente, por ter sido mais uma demonstração de como o evento anual mais importante em Hollywood é frequentemente aproveitado pelos premiados (e não só) para fazerem inoportunas e constrangedoras declarações de carácter político e/ou social… e, claro, invariavelmente esquerdistas-liberais. Alejandro Iñárritu, mexicano que sucedeu ao seu compatriota Alfonso Cuáron como melhor realizador, e anunciado de uma forma «bem humorada» (?) pelo sempre «ponderado» Sean Penn como «filho da p*t*» que não se sabe como obteve a «carta verde», falou da imigração. Graham Moore, autor do melhor argumento adaptado, defendeu o direito à diferença, em especial a (homos)sexual. «Cidadão Quatro», que retrata favoravelmente Edward Snowden, ganhou como melhor documentário (longo). Patricia Arquette, melhor actriz secundária, protestou contra a discriminação, em especial a salarial, de que as mulheres são vítimas – o que é verdade, na Casa Branca e em outras organizações dirigidas por democratas, como os grandes estúdios de Hollywood. E John Legend e Common, este um notório racista que se opõe ao casamento inter-racial, lá ganharam para «Selma» uma estatueta, a da melhor canção, e assim ajudando a diminuir a inexistente «injustiça» de que aquele filme teria sido objecto; tiveram o atrevimento de aludir à obrigatoriedade de identificação dos votantes como uma forma de racismo. Só faltou alguém vir arengar sobre o «aquecimento global». É pois uma surpresa que a emissão deste ano tenha tido menos audiência do que a do ano passado e sido uma das menos vistas de sempre?
Os demagogos e agitadores raciais habituais, a começar por Al Sharpton, que se indignaram com a suposta «falta de diversidade», e concretamente o reduzido número de nomeações de «Selma», e que atribuíram esse facto a animosidade racial, talvez se tenham «esquecido» de que, em 2014, «12 Anos um Escravo» foi considerado o melhor filme, tendo proporcionado ainda Óscares – enquanto produtor - ao seu realizador, o inglês Steve McQueen, e à actriz queniana (secundária) Lupita Nyong’o… ambos negros. Como em outras áreas, alegar que no cinema não houve mudança para melhor no relacionamento inter-racial é pura e simplesmente uma mentira – e em Portugal, como não podia deixar de ser, há quem acredite. E mesmo quando se revisita a História convém que tal seja feito de uma forma correcta…. e completa. 
Para o exemplificar recuemos até Novembro passado, quando, durante a anual entrega de distinções honoríficas realizada pela AMPAS, Harry Belafonte, cuja loquacidade senil faz lembrar bastante a de Mário Soares, não encontrou melhor maneira de «agradecer» o prémio humanitário Jean Hersholt, que então a Academia lhe entregou, do que criticar Hollywood pelo (mau) tratamento que deu às minorias, e em especial aos afro-americanos, ao longo dos anos. Destacou e condenou, em particular, que um filme como «Nascimento de uma Nação», epopeia que elogia o Ku Klux Klan, tenha sido o primeiro a ser exibido na Casa Branca. Porém, saberá Belafonte, outro – e idoso - «Tio Tomás» por constantemente e rispidamente defender democratas e atacar republicanos, quem era o presidente dos EUA quando tal «sessão de cinema» teve lugar? Era Woodrow Wilson, que nada fez para punir a segregação e premiar a integração, muito pelo contrário, e que é um dos membros mais «destacados», pela negativa, do pouco recomendável «clube» dos chefes de Estado «burros». Muitos fazem «fitas»… mas nem uns nem outros são sempre de se ver e de se admirar.

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