quarta-feira, 15 de abril de 2015

A segunda guerra civil dos EUA

Hoje assinala-se uma triste efeméride, para os Estados Unidos da América e para o Mundo: os 150 anos da morte de Abraham Lincoln. Primeiro presidente eleito pelo Partido Republicano, assassinado por John Wilkes Booth, um democrata, que disparara na véspera contra o Nº 16 no Teatro Ford, em Washington
… E, como era de prever, Barack Obama não assinalou condignamente a data: limitou-se a proclamá-la como «Dia de Lembrança» («Day of Remembrance») e a ordenar o hastear da bandeira a meio mastro… e nada mais. Também não se pronunciara, no dia 9, sobre os 150 anos do fim da Guerra Civil norte-americana, concretizado pela rendição de Robert E. Lee a Ulysses S. Grant. Aliás, o actual presidente nunca fez qualquer intervenção, nos quatro anos dentro dos seus dois mandatos, em que a luta entre Norte e Sul, nos seus sucessivos episódios, atingiu o centenário e meio; por exemplo, o mais significativo, referente ao discurso em Gettysburg, em 2013, também não mereceu uma visita do Sr. Hussein àquela cidade da Pensilvânia.
Já o afirmei aqui, e reitero, que acredito que o motivo para este continuado e insólito alheamento da evocação de um período fulcral da história do país se deve ao facto de o partido do presidente, o Democrata, ter sido derrotado, naquele conflito, pelo Republicano… e essa circunstância contextualiza o cenário que tem vindo a agravar-se desde que Barack Obama tomou posse em 2009: o de que os EUA estão a viver uma segunda guerra civil, mais uma vez por culpa dos democratas, que, com as suas (más) posições em áreas e em assuntos fundamentais, têm vindo a colocar em causa seriamente a coesão, a integridade e o desenvolvimento da nação. Agora a luta não envolve literalmente canhões e espingardas mas outras armas, de outros tipos… políticos, judiciais, administrativos e burocráticos, económicos e demográficos.
Não sou o único a pensar isso. Em 2013 Pat Buchanan disse que o afluxo de dezenas de milhões de hispânicos com «uma linguagem diferente, uma cultura diferente, uma fé diferente, basicamente temos dois povos. E dois povos, eventualmente, tornam-se dois países. Isto é o que eu vejo como o futuro da América, a balcanização e a destruição de um país que se tornou uma nação por volta de 1960 quando todos os imigrantes que vieram da Europa de Leste e do Sul, entre 1890 e 1920, haviam sido assimilados e “americanizados"»; em 2014 o mesmo Buchanan reiterava aquele raciocínio ao afirmar que a acção executiva do Sr. Hussein para legalizar (ou não criminalizar) milhões de imigrantes ilegais representava «o início do fim dos Estados Unidos como uma nação» - e, nesse âmbito, as 73 cidades e condados cujos (ir)responsáveis subscreveram um documento de apoio àquela decisão representam como que uma «nova confederação» disposta a redesenhar a configuração, se não territorial então populacional, do país; no mesmo sentido foi Phyllis Schafly, que considerou aquela decisão do Nº 44 um «momento tipo Forte Sumter»; Mark Steyn, também em 2013, alertava para a possibilidade de existência de «movimentos sérios de secessão» se aquilo que ele designou de «socialismo de coelhinho fofo» preconizado pela actual administração não fosse travado. Já Tom Harkin acreditava (ainda em 2013) que «estamos agora mesmo num dos pontos mais perigosos da nossa História, tão perigoso como a quebra da União antes da Guerra Civil» - este senador democrata referia-se ao shutdown e culpava disso os republicanos, embora, obviamente, os culpados fossem outros…
A victória esmagadora do Partido Republicano nas eleições intercalares (estaduais e para o congresso) de 2014 terá evitado, ou pelo menos adiado, a concretização de várias iniciativas secessionistas surgidas em vários Estados antes daquelas. Nomeadamente na Califórnia (houve uma proposta para dividir o «Sunshine State» em seis), no Colorado e no Maryland (dois cada), tendo Pat Buchanan destacado outros impulsos separatistas, embora menos organizados, no Michigan e no Vermont. Ou seja, num dado momento pareceu que se poderia concretizar a asneira de Barack Obama em 2008 – que deveria ter sido suficiente para o desqualificar como candidato a presidente – de existirem (pelo menos) 57 Estados! Quase todos os «candidatos a secessionistas» foram (ou são…) cidadãos, eleitores, conservadores desagradados com governadores – e/ou funcionários estaduais – liberais. Isto é, contesta(va)m as políticas, ideologias, doutrinas esquerdistas habituais: impostos altos, controlo de armas, imigração desregrada, agenda LGBT, desrespeito da liberdade religiosa (invariavelmente a de indivíduos e de instituições cristãs), abusos ambientalistas (e não só os decorrentes da fraude do «aquecimento global antropogénico»). E tinham razão em fazê-lo, porque os Estados «encarnados» são melhor geridos e apresentam melhores indicadores, qualidade de vida e segurança do que os Estados «azuis»; aliás, basta comparar o Texas com a Califórnia para dissipar todas as dúvidas nesse âmbito…    
Porém, e isso não é novidade, aos «liberais» e «progressistas» interessa menos a verdade dos factos do que a certeza das ideologias. Pelo que na luta pelo poder continuam a recorrer regularmente às mais agressivas e «criativas» mentiras, ofensas e ameaças. Em mais de sete anos já se reproduziram aqui muitos exemplos da vil linguagem dos democratas, e quem pensava que não seria possível ir-se mais longe ficará decerto «contente» por saber que eles são sempre capazes de fazer pior: os republicanos «estão a destruir o país, penso que temos de nos ver livres deles, são realmente um cancro nos Estados Unidos», e «não são americanos, estariam mais confortáveis na Ucrânia ou na Rússia, mantenham-se longe do nosso país»; a América seria salva se «Ted Cruz e John Boehner estivessem ambos num navio a afundar-se»; os membros do Tea Party são «inimigos domésticos»; «conservadores extremistas (que são contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a favor da posse e uso de armas) não têm lugar no Estado de Nova Iorque»; «a tolerância não é, não deveria ser, uma rua com dois sentidos… é uma rua de sentido único»; os republicanos «querem indiscriminadamente mandar crianças para a morte»; são «traidores, inimigos dos Estados Unidos da América»; «os intelectuais conservadores estão a fazer tentativas calculadas de subversão da nossa democracia»; o GOP «é realmente o partido de Jefferson Davis».
Os últimos quatro exemplos vêm da imprensa, de certa comunicação social que há muito perdeu o pudor (se é que alguma vez o teve...) de ser confundida com uma parte integrante e actuante do Partido Democrata. De que os editoriais (não assinados) do New York Times, acusando inclusive o Partido Republicano de «insurreição», constituem das mais histéricas manifestações. E quando o novo apresentador do «Face the Nation», da CBS, é alguém que aconselhou Barack Obama a «destruir, pulverizar» o PR, pouco mais é preciso para comprovar que uma nova «guerra civil» tem vindo a ser disputada e que os «burros» perante nada recuarão para assegurarem o poder. E isso inclui lançar petições electrónicas – autênticas tentativas de linchamento modernas – para que os «elefantes» sejam presos apenas por exercerem as suas prerrogativas políticas: a que surgiu após a carta dos 47 senadores ao Irão, acusando-os de «traição», não foi a primeira deste tipo, pois já antes outra, lançada em 2013 na sequência do shutdown do governo federal, acusava John Boehner, Eric Cantor e outros líderes republicanos no Congresso de «conspiração sediciosa contra os Estados Unidos»!
Todos estes desviantes e desviados, radicais, extremistas, candidatos a repressores e a ditadores, já existiam e já pensavam desta forma antes de Barack Obama aparecer e tomar o poder. Mas foi a ascensão do Nº 44 que lhes deu a «coragem», o à-vontade, a «legitimidade», a decisiva falta de vergonha, para saírem da sombra – e dos armários – e exercerem as suas ameaças, as suas violências – figuradas e por vezes literais – sobre os opositores de uma forma (ainda mais) explícita. E é frequentemente o próprio Sr. Hussein a dar o incentivo, o precedente, o pretexto nesse sentido: em Agosto de 2014 declarava em entrevista ao New York Times que ele e os seus camaradas são pessoas de «senso comum», sem «disparates ideológicos», que se baseiam nos «factos» e na «razão», «não negamos a ciência, não negamos as alterações climáticas, não damos a entender que de algum modo ter um monte de pessoas sem seguro (de saúde) é a maneira americana», e esperava que num futuro próximo o GOP «se libertasse da garra da sua ideologia extremista». Este patético e pedante exercício de projecção teve como resposta, três meses depois, uma enorme «tareia», o maior triunfo eleitoral da «ideologia extremista» em 80 anos
No entanto, os  - verdadeiros – herdeiros de Jefferson Davis nunca se dão por vencidos. Mais do que «apenas» desdenharem o primado da lei, eles declararam «guerra» há já bastante tempo. A questão está em saber se os conservadores a aceitam ou não. Se sim, e se deixarem de se comportar como reféns padecendo de uma espécie de «Síndrome de Estocolmo», a solução só pode ser uma: (tentar) extinguir definitivamente o Partido Democrata, algo que já devia ter sido feito há muito tempo… mais precisamente, há 150 anos, a seguir àquela funesta madrugada de 15 de Abril de 1865.

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