terça-feira, 7 de abril de 2015

Nesta Páscoa quem foi «Judas»?

(Uma adenda no final deste texto.)
Foi há cerca de um mês, mas os «ecos» de mais uma polémica «progressivamente» - e artificialmente - empolada ainda podem ser escutados… Houve uns quantos histéricos, e histéricas, e hipócritas, que como que molharam as cuecas de indignação por 47 senadores republicanos terem escrito e divulgado uma carta aberta aos «líderes da República Islâmica do Irão» explanando e esclarecendo o óbvio: que o eventual acordo que a actual administração estava a tentar (e acabou por) estabelecer com a liderança daquele país sobre o seu programa nuclear poderá não ser aprovado, ratificado, pela câmara alta do congresso norte-americano…
… E depois não faltaram as acusações de «traição» - estampada desde logo numa vergonhosa primeira página do New York Daily News – por os republicanos terem supostamente feito algo… nunca antes feito. Os disparates sucederam-se, saídos das bocas de, entre outros, Joe Biden, John Kerry, Harry Reid, Howard Dean… até de Madeleine Albright, que deveria ser uma das últimas pessoas a ter esperança num «acordo nuclear» feito por uma administração democrata com uma ditadura estrangeira, algo de que até na CNN há quem se lembre. Entretanto, 235 mil pessoas de duvidosa capacidade mental assinaram uma petição para que aqueles 47 senadores fossem julgados por traição! Porém, e como habitualmente, os democratas têm uma «memória (muito) curta» que afecta principalmente as suas próprias falhas: em 2006 e 2007 pelo menos 12 democratas encontraram-se com funcionários governamentais iranianos; John Kerry não quis acreditar que os republicanos tivessem enviado uma carta aos iranianos, mas deve ter acreditado que ele próprio visitou a Nicarágua, os sandinistas e Daniel Ortega na década de 80 para afrontar Ronald Reagan; o mesmo fez Edward Kennedy mas em relação à União Soviética, solicitando a colaboração dos comunistas para eventualmente alcançar o poder; Nancy Pelosi disse que a sua viagem de 2007 à Síria para visitar Bashar Assad – quando George W. Bush era presidente – não é (foi) a mesma coisa que a carta do GOP… pois não, foi pior. Ben Shapiro e Stephen Hayes recordaram estes e outros casos, exemplos, de democratas a fazerem actos e a tomarem iniciativas tão «más» e mesmo mais graves do que as cometidas por republicanos…
… E que os torna(ra)m, eles sim, suspeitos, e até culpados, de traição. Aliás, se perguntarmos nesta Páscoa quem foi «Judas», quem no último mês – confirmando e acentuando uma tendência notada já há anos – não mereceu a confiança dos que deveria respeitar e defender em primeiro lugar, chegando ao ponto de abandonar, ou pelo menos se distanciar, de amigos, e de beneficiar, ou pelo menos desculpabilizar, inimigos, a resposta terá de ser, obviamente, Barack Obama… e os que o rodeiam. Que não têm cessado de elogiar e de favorecer muçulmanos, várias vezes em contextos e por pretextos dos mais insólitos. O Nº 44, numa importante cerimónia anual cristã que é o «National Prayer Breakfast», invocou as Cruzadas e a Inquisição como exemplos de que os seguidores de Jesus, e não só os membros do ISIS, são capazes de atrocidades… parecendo não saber que aquelas foram desencadeadas como reacção e resposta às invasões sarracenas da Europa e que, tal como o Tribunal do Santo Ofício, são acontecimentos com centenas de anos. Mais: ele declarou que o Islão está no «tecido» dos EUA desde a fundação da nação, o que não só é mentira, mais uma da longa lista do Sr. Hussein desde que tomou posse em 2009, mas também uma das mais anedóticas, estúpidas, ridículas que ele já disse – e que foi como que replicada por Jeh Johnson, secretário (do Departamento) de Segurança Doméstica, para quem a leitura do Corão lhe fazia lembrar «valores americanos fundamentais». Há quase um mês, a primeira-dama celebrou na Casa Branca o feriado iraniano do Nowruz. E, há cerca de duas semanas, John Kerry, quando interrogado por jornalistas em Genebra se um entendimento com os iranianos estava prestes a ser obtido, respondeu «Inshallah», ou seja, «se Alá quiser»!
Mais preocupante e mais sinistra do que a bajulação, por parte da actual administração norte-americana, de muçulmanos em geral e de iranianos em especial, é a – concomitante, paralela – hostilização de Israel, e em particular do seu actual primeiro-ministro. Que atingiu um momento culminante com o discurso feito por Benjamin Netanyahu ao Congresso, a convite de John Boehner e sem a «autorização» (não obrigatória) de Barack Obama, e que valeu aos republicanos os primeiros remoques, se não de traição, pelo menos de desconsideração e de incorrecção. A animosidade – pessoal e ideológica – de Barack em relação a Benjamin já vinha de trás, pelo que não é de surpreender (muito) que o primeiro tenha tentado apear o segundo do poder… enviando uma equipa dos seus operacionais de campanha para Tel Aviv de modo a tentar conseguir uma victória para a oposição. Fracassada esta, a desilusão foi evidente na Casa Branca, e, maus perdedores como sempre, as birras dos «obamistas» não tardaram: primeiro, Denis McDonough, chefe de gabinete do Sr. Hussein (e, logo, uma «extensão» deste e certificada «voz do dono»), afirmou na (quinta) conferência anual da J Street (agremiação de judeus norte-americanos conformistas, desinteressados e mal informados) que «uma ocupação (da Margem Ocidental do rio Jordão por Israel) que dura há mais de 50 anos tem de terminar»; depois, e mais grave, o Departamento de Defesa desclassificou e divulgou um relatório confidencial que confirma (a existência) e pormenoriza as características do programa nuclear israelita. Mais uma «pequena» traição ao mais importante aliado dos EUA no Médio Oriente, que com Obama cada vez menos o parece.
Outro «Judas» que já se suspeitava que fosse, e que agora, acusado de deserção e de mau comportamento perante o inimigo, há a certeza de ser, é Bowe Bergdahl. Conhecida a decisão do Comando do Exército dos EUA, tornam-se (ainda mais) patéticas a declaração de Susan Rice de que aquele soldado havia «servido com honra e distinção» e a cerimónia, num dos jardins da Casa Branca, de Barack Obama com os pais daquele como se de um herói se tratasse – para os que morreram a procurá-lo, e para as suas famílias, é que não houve qualquer homenagem. E mais desastrosa se tornou esta decisão do Nº 44 em 2014 – tomada sem ter consultado, como devia, o Congresso (pelo que não tem de se queixar de aquele lhe ter «retribuído o favor» com Bibi) – de ter trocado Bergdahl por cinco comandantes talibãs porque, destes, três já terão tentado «voltar ao activo» - isto é, regressar ao terrorismo – o que era, aliás, perfeitamente previsível…
… E os mesmos que negociaram e festejaram a libertação de Bowe Bergdahl querem agora convencer-nos de que o acordo com o Irão é bom. Mas se em Teerão se festeja nas ruas e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Java(r)d(o) Zarif, é recebido como um herói, isso significa, seguramente, que o acordo é mau para todos os outros. E os factos de aquele não ser – o próprio John Kerry admitiu-o! – legalmente vinculativolegally binding») e de haver diferenças de conteúdo entre as versões em Inglês e em Farsi bastariam para desencadear dúvidas e para provocar preocupações legítimas. E há outros elementos a considerar neste âmbito, uns risíveis, outros nem tanto: o Departamento de Estado a apresentar as condolências a Hassan Rouhani, presidente do Irão, pela morte da mãe; a Casa Branca a desvalorizar os (continuados) apelos em Teerão de «morte à América» - incentivados pelo próprio Ali Khamenei - como um assunto de «política doméstica» iraniana; um dos mais importantes chefes militares do Irão a garantir que «apagar Israel do mapa» ainda é uma prioridade do regime dos «ai-as-tolas»; este terá encontrado na equipa de negociadores norte-americanos, segundo o jornalista iraniano (tornado dissidente) Amir Motaghi, os seus representantes (!) junto das delegações dos outros países participantes…
… De que se deduz que a actual administração norte-americana não merece confiança quando se trata de defender os interesses do Ocidente. E considerando que, como salientou (o democrata) Leon Panetta, baseando-se na sua experiência enquanto director da CIA e secretário de Estado, «os iranianos não são de confiança», o cenário que se perspectiva para o futuro é duplamente preocupante. Além de confuso: como fez notar Richard Engel, da NBC, os EUA, além de negociarem com o Irão na Suíça, luta(ra)m com o Irão no Iraque, contra o Irão no Iémen, e com e contra o Irão na Síria! Por isso, não é de surpreender que a Arábia Saudita tenha decidido lançar uma ofensiva no Iémen e a disso avisar os EUA só mesmo em cima do acontecimento…
... E estes estarão a sofrer as consequências de, por decisão de Barack Obama, não terem apoiado o movimento pró-democracia que brevemente surgiu no Irão em 2009. Os activistas dissidentes da então chamada «revolução verde», muitos dos quais são presentemente prisioneiros políticos, voltaram a manifestar-se através não de uma mas sim de duas cartas abertas endereçadas à Casa Branca, criticando esta por negociar (mal) com um regime repressivo, que não respeita os direitos humanos e não aceita a democracia, que apoia o terrorismo mundial e quer construir armas nucleares. Ou seja, a carta dos senadores republicanos teve «resposta» e justificação, e Tom Cotton, o principal proponente da iniciativa, superou este particular «calvário» - feito de insinuações e de insultos - em prol de uma verdade e de um bem maiores.
(Adenda – Quando se pensa que é impossível que a actual administração possa dar exemplos mais ridículos de incompetência e de (Obam)adorismo do que os que já deu, ela volta a demonstrar… que é possível. Não era difícil de prever que surgiriam divergências entre Washington e Teerão quanto às características e às consequências do acordo e que os «ai-as-tolas» não desistiriam de construir armas nucleares, apenas desacelerando o seu programa «para inglês (e norte-americano) ver(em)»; ou seja, o problema não foi, não está, resolvido, e a «batata quente» passará para o Nº 45, seja ele(a) quem for. Entretanto, para (novo) cúmulo, Josh Earnest criticou John McCain como sendo «ingénuo» e «irresponsável» por levar a sério as ameaças que Ali Khamenei faz contra os EUA e Israel! Isso quer dizer que John Kerry e os outros «negociadores» em Genebra não deveriam ter acreditado nas promessas que os seus homólogos iranianos fizeram? Perante este descalabro, não é surpresa que uma emenda ao orçamento para 2015 prevendo a criação de um fundo de reserva relativo a sanções contra Teerão tenha recebido no Senado 100 votos a favor… sim, todos concordaram, até os democratas! Destes, Chuck Schumer, que deverá suceder a Harry Reid na liderança da minoria na câmara alta, afirmou que «acredito fortemente que o Congresso deveria ter o direito de reprovar qualquer acordo». Estará o liberal senador nova-iorquino entre os que Barack Obama classificou de adeptos da «linha dura» que nos dois países «se opõem a uma solução diplomática»?)              

1 comentário:

Neo disse...

Um grande post!
A situação é grave. Obama criou uma situação muito difícil para Israel e passível de desequilibrar definitivamente os poderes regionais no Médio Oriente.
Ao dar conforto a um Estado terrorista que tenta desesperadamente chegar ao armamento nuclear e sabendo do que os fanáticos são capazes, Obama demonstra que não tem estatura para presidir à mais poderosa nação do mundo.
Continuo sem perceber que força levou Obama ao poder.
Uma coisa é certa, o próximo governo vai ter uma tarefa gigantesca pela frente. São demasiadas asneiras na política externa.