sexta-feira, 14 de agosto de 2015

«Hillarity» (Parte 3)

(DUAS adendas no final deste texto.)
No passado mês de Março, quando abordei anteriormente em mais detalhe a pessoa de Hillary Clinton, o seu percurso político mais recente e a sua então provável candidatura a presidente dos EUA (a qual ainda duvidava que lançasse), dei numerosos exemplos dos erros e possíveis ilegalidades que cometera, e que já incluíam o servidor e a(s) conta(s) de correio privadas para assuntos de (Departamento de) Estado, além das doações – tanto internas como externas – que a Fundação Clinton recebia e que seriam incompatíveis com o cargo de chefe da diplomacia norte-americana que ela desempenhou no primeiro mandato de Barack Obama…
… Mas nem eu conseguia imaginar que essas suspeitas, revelações e escândalos viessem de tal modo a aumentar e a agravar-se que, depois de ela ter anunciado – duas vezes! – que estava na corrida para a Casa Branca em 2016, não só Hillary Clinton tem vindo a descer nas sondagens como à esquerda se sucedem as previsões – de Camile Paglia, por exemplo, mas não só – de que ela acabará por desistir, ao mesmo tempo que se sucedem os apelos a que outros entrem na compita. E já não se fala apenas de Joe Biden: também Howard Schultz, CEO da Starbucks, tem sido referido! Como é que se chegou a este ponto? Motivos não faltam. Assim, e não pretendendo ser exaustivo…
… Pode-se começar por referir (algum)as (das mais recentes) hipocrisias, as contradições (há quem diga «evoluções»), as mentiras, que até para os esquerdistas são visíveis: em Abril estimou-se que dois milhões dos seus seguidores no Twitter eram falsos ou inactivos; ela disse que os seus quatro avós foram imigrantes… quando só um é que foi; disse que nunca recebeu intimações do Congresso para depor sobre o seu correio electrónico… mas recebeu; criticou os (alegados) baixos impostos que os gestores de fundos financeiros pagam… «esquecendo-se» talvez que o seu genro é um desses gestores; condenou o (fictício) «flagelo contínuo de assalto sexual» que se verifica nos campus universitários norte-americanos… «esquecendo-se» talvez que está casada com um verdadeiro abusador sexual e adúltero; depois de apelar ao combate contra as «alterações climáticas» através da redução drástica das emissões de dióxido de carbono, tomou um avião particular com um elevado consumo de combustível (algo que também é frequente em Barack Obama); exigiu que seja retirado definitivamente das eleições o «dinheiro não contabilizado» («unaccountable money»), designação, está visto, que ela não aplica aos muitos milhões que a Fundação Clinton recebe e que é utilizado nas despesas daquela família… dos quais uma grande parte são de doações estrangeiras que ela prometeu que cessariam enquanto ela fosse secretária de Estado, ou seja, uma promessa que ela não cumpriu; agora assume-se como opositora da denominada «Parceria (comercial) Trans-Pacífica» quando, antes, por 45 vezes (!) a defendeu. Lanny Davis, um dos mais fiéis «cães de guarda» dos Clintons, chegou ao cúmulo de dizer que Hillary «nunca mudou uma única posição em toda a sua carreira», mas os exemplos do contrário não faltam…
… E não seria mau se os problemas da mãe de Chelsea apenas adviessem da sua permanente tendência para o «flip-flop». Porém, e como muitos previram, a situação piorou, e bastante, a partir do momento em que os seus métodos de enviar, receber, (não) guardar e (não) entregar correio electrónico se tornaram um caso de polícia: a 4 de Agosto foi noticiado que o FBI decidiu iniciar uma investigação do tal servidor privado e da sua utilização, o que vem na sequência de, uma semana antes, se ter sabido que dois inspectores-gerais do governo federal haviam pedido ao Departamento de Justiça que fizesse o mesmo; e, esta semana, soube-se que o aparelho foi finalmente entregue... e que a empresa encarregada da «manutenção» daquele foi acusada de actividades ilegais! Estará Hillary Clinton mesmo muito perto de ir para a prisão? Quase se diria que o número cinco anda a «assombrá-la» neste âmbito: premonitório, Rudy Giuliani – que, recorde-se, antes de ser mayor de Nova Iorque foi procurador – declarou que a ex-secretária de Estado devia estar sob investigação por cinco crimes; John Sexton enunciou as cinco razões pelas quais, na sua opinião, ela está em apuros; e vieram de cinco agências de inteligência as informações confidenciais altamente sensíveis já detectadas nas mensagens que passaram pelo servidor dela e analisadas por funcionários do Departamento de Estado. Ou, mais precisamente, as mensagens que ela entregou e que não apagou… uma tarefa para a qual, aliás, ela procurou bibliografia actualizada e específica; um esforço talvez supérfluo, pois segundo Mike Morell, ex-director adjunto da CIA, provavelmente alguns governos estrangeiros (não necessariamente amigos…) acederam a essas mensagens.
O governo da Rússia pode não ter obtido (uma parte d)o correio electrónico de Hillary Clinton – e, logo, uma porção considerável das comunicações confidenciais do governo dos EUA – mas o que obteve de certeza, e graças à ex-secretária de Estado e actual candidata à presidência, foi um quinhão assinalável – cerca de um quinto, ou 20%! – das reservas norte-americanas de urânio: ainda sob a liderança da Sra. Rodham, o Departamento de Estado autorizou que a agência de energia nuclear russa adquirisse o controlo de uma firma canadiana proprietária de uma mina daquele metal no Wyoming… e, posteriormente, a Fundação Clinton recebeu – por «coincidência», obviamente – uma generosa contribuição; enfim, tratou-se de uma operação que deu indubitavelmente um novo significado ao «reset» com a Rússia e à promessa a Vladimir Putin de maior «flexibilidade» por parte de Barack Obama… Perante esta transacção que mais parece uma traição, não têm tanta importância, em comparação, o dinheiro recebido pela FC: de uma igreja africana (concretamente, dos Camarões) notória pelas críticas que os seus líderes fazem à homossexualidade; e do banco suíço UBS depois de Hillary ter intercedido a favor daquele numa disputa com o IRS norte-americano. Este organismo também terá deixado passar durante (pelo menos) cinco anos as irregularidades nas declarações de impostos da fundação…
Como é que é possível que, perante todos estes problemas, e com os seus números nas sondagens a diminuírem constantemente e a tornarem-se «nixonianos», a Sra. Clinton persiste em prosseguir em campanha? Porque, principalmente, ela conta com a colaboração d(a grande maioria d)a comunicação social. E tanta é essa confiança que ela não hesita em isolar e em conduzir repórteres que a acompanham com cordas (!), como se fossem gado – uma práctica, aliás, que não é nova para ela. E tanta é essa confiança, igualmente, que a sua equipa consegue pressionar o New York Times a alterar uma notícia que lhe era desfavorável. No entanto, nem todos na «lamestream media» estão já dispostos a permanente e incondicionalmente servirem como extensão do gabinete de imprensa de Hillary. Entre os que se atreve(ra)m a sair (ocasionalmente?) do «curral» estão: Carl Bernstein, que disse que Hillary tem «um relacionamento difícil com a verdade» e que se tornou uma «especialista» em «ofuscação»fudging») devido também à defesa que tantas vezes decidiu fazer do marido contra as mulheres que o acusavam de comportamentos impróprios; Ron Fournier, que disse que sabe «do que os Clintons são capazes» e que «talvez o cão tenha comido o correio electrónico dela»; Jonathan Chait, que a acusou, e ao marido, de serem «desorganizados e gananciosos».
Todavia, existirão sempre aqueles que a apoiarão incondicionalmente ou quase, não obstante as vicissitudes. Como Nancy Pelosi, para quem o mais importante não são as (diferentes) posições que Hillary Clinton assumiu ao longo dos anos mas sim o facto de ela poder vir a ser a primeira mulher na presidência. Como as (moralmente superiores à líder da minoria democrata na Casa) p(rostit)utas do Bunny Ranch, o famoso – e legal - bordel no Nevada, o que muito deve ter agradado a Bill. Sim, este e outros episódios – como os relacionados com o logo e o lema da sua campanha, e ainda com um veículo em que se fez transportar – podem tê-la tornado numa piada.
Contudo, as consequências das suas (in)acções, em especial enquanto secretária de Estado, não dão vontade de rir; e em nenhum país a sua incompetência foi mais catastrófica do que na Líbia, onde, para além de terem sido assassinados quatro compatriotas (em Benghazi), têm partido as sucessivas vagas de imigrantes ilegais que atravessam o Mediterrâneo em direcção à Europa – um fluxo tornado possível pela decisão dos EUA em apoiar o derrube de Mohammar Khadaffi sem acautelar, ao contrário do que George W. Bush fez no Iraque, a instalação de um novo regime político minimamente sólido e tendencialmente democrático. Não, nem sempre Hillary é sinónimo de hilaridade.
(Adenda - Não é de agora que Hillary Clinton, pelas suas atitudes, pelos seus comportamentos, até pelo seu percurso, é comparada com Richard Nixon - algo que, aliás, e justificadamente, também se faz em relação a Barack Obama. Porém, ouvi-lo da boca de Bob Woodward... é outra coisa. E não me parece que o 37º presidente dos EUA brincasse - como ela o faz - com a gravidade das acusações que lhe eram feitas.)
(Segunda adenda - Hillary Clinton continua a afirmar - e fê-lo novamente na sua mais recente (e desastrosa) conferência de imprensa - que, enquanto secretária de Estado, nunca recebeu nem enviou mensagens contendo informações confidenciais. Porém, 305 dessas mensagens... problemáticas já foram encontradas pelos funcionários do Departamento de Estado encarregados da contagem (das que foram entregues, isto é, não apagadas)... e esta está muito longe de terminada. Entretanto, em mais um novo e inacreditável desenvolvimento, soube-se que o servidor privado da Sra. Clinton estava, não na sua casa em Nova Iorque, mas sim numa pequena empresa informática do Colorado... e, mais concretamente, num armário de casa de banho!) 

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